Sexta-feira, 19 Abril

«Mary, Queen of Scots» (Maria, Rainha dos Escoceses) por Ilana Oliveira

Não fosse o cânone histórico e a determinante representação de Cate Blanchett nas duas longas metragens de Shekhar Kapur (1998 e 2007), Margot Robbie teria entregue uma interessante Rainha Elizabeth I. Mary, Queen of Scots cria uma trajetória para as duas protagonistas, na qual aborda as suas personalidades de maneira subestimada e frívola.

Para a rainha Mary Stuart da Escócia, conhecida por ser a tal “Bloody Mary“, que se encontra aqui sem a partícula do “bloody”, cria-se uma jovem completamente dócil e sofredora com as adversidades que atravessam a sua vida. Para a rainha Elizabeth I, conhecida por sua forte personalidade e presença, além da tomada de decisões fatídicas em momentos históricos ingleses e até pessoais, temos uma menina submissa e, mais uma vez, sofredora, em um resumo injusto das suas construções de personalidade.

O argumento que compromete-se a contar a história de Mary Stuart e coloca em foco a suposta “rivalidade” entre a rainha da Escócia e a sua prima, a rainha da Inglaterra Elizabeth I, na realidade constrói uma colcha de retalhos onde costura momentos históricos sem comprometimento temporal e torna-se enfadonho ao ponto de parecer ser uma novela, talvez não uma das piores, mas que demonstra não ter capacidade de ser um filme.

Apoiando-se no peso das suas duas atrizes principais, recentemente condecoradas em premiações e reconhecimento técnicos, e no estigma de “mulheres fortes”, aproveitando o propício momento social que nos encontramos, “Mary” ainda encarrega-se de criar um suspense durante toda a longa metragem que nos levaria até o momento fulcral do encontro entre as duas peças centrais.

Este momento, além de “presentear-nos” com um diálogo que quebra possíveis caminhos promissores, é um jogo de esconde-esconde dentre lençóis (literalmente) que não adicionam em nada à narrativa. A cinematografia que esbanja dos exuberantes visuais dos vales escoceses, nesse momento adquire uma brincadeira à la Terrence Malick, na qual a luz favorece, entretanto não se justifica. Por fim, ainda apresenta um saldo positivo com a iluminação entre claro e escuro que facilita a ambientação e a passagem da ensação que os personagens sentem dentro dos espaços que se encontram.

Os figurinos são exuberantes e de cores vívidas, e por vezes resgatam visuais folclóricos como a Rainha de Copas de Alice no País das Maravilhas, e a maquiagem feita em Margot Robbie é magistralmente errónea, já que apresenta falhas historicamente plausíveis. A falha encontra-se na falta de envelhecimento de Mary Stuart, que atinge os 44 anos sem ao menos envelhecer com uma ruga.

Saoirse Ronan e Robbie formam uma bela dupla, pena que foram escolhidas para um filme na qual não obtiveram um bom conteúdo de personagem para desenvolverem, mas que, mesmo assim, fazem um bom trabalho com o que tinham em mãos.


Ilana Oliveira 

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