Sexta-feira, 29 Março

«Under The Silver Lake» (O Mistério de Silver Lake) por José Raposo

O Mistério de Silver Lake propõe um olhar à volta de detritos mais ou menos entranhados no imaginário colectivo, usando como mote o desaparecimento súbito e misterioso de uma das suas personagens protagonistas.  Na Los Angeles de David Robert Mitchell tudo é superfície, e por debaixo dessa superfície já não se encontra propriamente a praia – quase que se pode escrever que não se encontra nada senão um grande vazio. Por de baixo da superfície, mais superfície: não é isto belo?

Quero dizer:  este mistério é uma história profundamente artificial e fragmentária, unida por uma consciência paranóica mas muito treinada na leitura alucinada da iconografia contemporânea.  É cá um dos nossos, não acham? As alusões constantes a uma certa memória do cinema (memória em vez de história, evidentemente) são um pouco como as movimentações das peças de um jogo de xadrez absurdo: inconsequentes e sem sentido, uma espécie de coroa de silicone no topo de uma cabeça cinéfila. Tudo falso e plastificado, num filme onde se f*** distraidamente enquanto se consome mais um pedaço do espectáculo do telejornalismo: não é isto belo?

Dito isto: esta pose algures entre a paródia e a farsa não propõe exatamente um olhar comprometido com a realidade, mas isso pouco importa – arte para quê, (ou ainda, arte…como?) se há tanta coisa para entreter, tanto tempo para pensar sobre cenas em festas no topo de rooftops.

Não é isto belo?


José Raposo

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