Sexta-feira, 19 Abril

«Bumblebee» por Jorge Pereira

Depois de cinco filmes Transformers assinados por Michael Bay com o dedo na produção de Steven Spielberg, a escolha de um novo realizador para este Bumblebee recaiu em Travis Knight, um nome habituado a trabalhar no cinema de animação (Coraline e a Porta Secreta; ParaNorman; Os Monstros das Caixas) e que dirigiu Kubo e as Duas Cordas com relativo sucesso.

A escolha surpreendeu, mas o resultado final desta nova aventura do Universo Transformers tende mais a pesar para a herança de Spielberg (em especial o seu ET: O Extraterrestre) do que para a de Bay, com a sensibilidade, familiaridade, humor e um forte toque retro (até o carocha em que Bumblebee é próximo de Herbie) a destacarem-se sobre as multifacetadas sequências de batalha e luta robótica, aqui claramente mais reservadas, ligeiras e genéricas, sem nada de verdadeiramente espetacular para acrescentar à franquia.

Percebe-se que este Bumblebee é um festival de clichés e lugares comuns, desde as situações familiares na casa da nossa Charlie (Hailee Steinfeld), aos problemas de popularidade dela com outros jovens, aos jogos militares em plena Guerra Fria, ao soldado com ambiguidade nas lealdades (John Cena em modo Mark Whalberg), passando pelas guerras de poder entre os robôs. Bumblebee sobrevive sim pela atenção e empatia que dá à relação entre Charlie e Bumblebee, dois proscritos nos seus mundos, e pela viagem nostálgica aos anos 80, com a música (The Smiths, Duran Duran) e o Cinema (Breakfast Club) a funcionarem como elementos chave do regresso a uma década extremamente influenciada por Spielberg e pelas suas aventuras infanto-juvenis capazes de apaixonar adultos.

Aliás, muito do tom deste novo filme já se tinha sentido no primeiro Transformers (2007), isto quando Bay – antes de embarcar no caos total de ação desenfreada que é a sua marca (o Bayhem) – introduziu com relativa doçura e entrega as personagens de Shia Labeouf e Megan Fox. Na realidade, este Bumblebee no seu todo assemelha-se bastante a essa primeira parte de Transformers, sem nunca cair na narrativa movida a hormonas masculinas adolescentes que Bay tanto minava.

No final, e resumindo e baralhando, Bumblebee mostra ter charme, sentimento e humor, mas no seu todo acaba por ser mais do mesmo, um território já visitado que brilha nas referências e que dentro da sua franquia se assemelha mais a um desfibrilhador que a uma verdadeira lufada de ar fresco.


Jorge Pereira

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