Sábado, 20 Abril

«Lukas» (O Segurança) por Jorge Pereira

Os thrillers de ação são a praia de Julien Leclercq, cineasta com incursões no género nas mais variadas vertentes, seja a ficção científica (Chrysalis – Um Futuro Próximo) ou baseados em factos reais e históricos (L’Assault).

Em Lukas, Leclercq une-se a Jean Claude Van Damme numa história que podia definir toda a carreira do ator belga. Vejamos: Van Damme é um segurança com uma filha que vive uma vida recatada. Quando perde o emprego, encontra lugar a trabalhar para um criminoso. Às duas por três, esse criminoso está a ser investigado pelas autoridades, sendo Van Damme obrigado a fazer um jogo duplo, tentando balançar trabalho e vida privada.

Nos anos 80, 90 e 2000, o belga fazia filmes com este tipo de enredo “ao pontapé”, onde não faltavam grandes momentos de pancadaria, muita emoção melodramática a puxar à telenovela, e uma ideia de heroísmo no cinema de ação muito real. Porém, aqui, Leclercq prefere pegar nos mesmos ingredientes de sucesso para cozinhar um thriller noir que se constrói em lume brando e usa o processo de envelhecimento de Van Damme, a sua misteriosa vida secreta no passado, e a sua reserva para dar um tom e atmosfera completamente díspar aos trabalhos do ator no passado.

O resultado final é curioso, com Leclercq a implantar no filme e na personagem uma extrema contenção (que trespassa igualmente para a cinematografia fria e banda-sonora simples mas eficaz) a fazer lembrar Rundskop, de Michaël R. Roskam (os cenários e segredos do passado do protagonista ajudam), enquanto outros elementos remetem aos mais recentes trabalhos do argumentista Jérémie Guez, responsável pelo recente A Bluebird in My Heart e o muito interessante filme de zombies em Paris, La nuit a dévoré le monde. Lukas – bem melhor que o título europeu The Bouncer – merece assim uma espreitadela, especialmente para aqueles que querem ver JCVD alargar dramaticamente a sua zona de conforto.


Jorge Pereira

 

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