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«Won’t You Be My Neighbor?» por Jorge Pereira

O ano de 2018 foi bastante frutífero para Morgan Neville, realizador de documentários como Keith Richards: Under the Influence. O cineasta não só lançou este Won’t You Be My Neighbor?, como Amar-me-ão Quando Eu Morrer, trabalho sobre Orson Welles e o seu filme inacabado, O Outro Lado do Vento, (terminado este ano com a ajuda da Netflix).

Won’t You Be My Neighbor? faz uma radiografia a Fred Rogers, um pioneiro e responsável pelo programa Neighborhood que na PBS (canal público norte-americano) influenciou sobremaneira várias gerações de jovens, lançado ideias de como as crianças devem ser entretidas e educadas.

Recorrendo a imagens de arquivo do programa, bem como a entrevistas com alguns dos intervenientes e familiares, Neville lança o olhar sobre um pastor que não pregava nos seus programas, mas que usava uma linguagem e abordagem muito própria com as crianças e com a sua educação. É um trabalho cheio de carinho e nostalgia, que por diversas vezes mostra como Rogers navegava contra a maré, não só pela integração no elenco do programa de atores multirraciais, mas também pela sua posição contra desenhos animados violentos ou programas que ensinavam desde pequeno as regras da sociedade capitalista e neoliberal. Não é a toa que muitos dos seus críticos apontavam como defeito o facto de ele considerar qualquer criança especial e única que merecia ser amada sem ter de brilhar para isso, contrariando uma sociedade americana baseada na competição.

Há elementos que poderiam ter sido melhor explorados, como a própria dependência capitalista do seu programa que impedia que um homossexual do elenco se assumisse como tal, mas no geral estamos perante um objeto tocante, montado e executado de forma simples (como qualquer documentário para TV), mas definitivamente em forma de tributo onde não faltam ainda imagens do seu funeral e protestos de extremistas contra Rogers por “tolerar” a homossexualidade.


Jorge Pereira