Nos tempos que decorrem procurar “super-heróis” fora das marcas estabelecidas da Marvel e DC Comics é quase como abraçar uma produção suicida. Mas em todo o caso Robin Hood faz parte de uma tradição longa de heróis vincados que transladaram do folclore literário até ao cinema, até por fim, serem imortalizados nesse meio.

Recordamos Errol Flynn como a mais célebre das encarnações, não esquecendo da raposa animada da Disney em 1973 ou da variação pop protagonizada por Kevin Costner. Com Russell Crowe em modo Gladiador 2.0 na recente memória, damos lugar a Taron Egerton numa modernização anacrónica de uma Inglaterra a mimetizar os ecos do Brexit e da fobia da imigração. Nesses parâmetros contextuais, esta versão assinada por Otto Bathurst permanece como um projeto com alguma substância nem que seja pela sua agressividade temática, porém, nada que compense as desengonçadas narrativas hiperativas a focarem-se no universo dos videojogos ou na nula espessura dramática tida na sua seleção de personagens (sem com isto mencionar as personagens-tipos tão evidentes que tornam isso em enfadonhos clichés, como a escolha de Ben Mendelsohn como Xerife de Nottingham).

É evidente que o revisionismo “histórico” (salienta-se que a existência de Robin Hood nunca foi de todo historicamente comprovada) tende em comportar-se como uma especiaria elaborada para a “desculpa” de uma nova versão, e entenda-se que seja isso que levará a muita repugna por parte das audiências acostumadas a uma ideia estabelecida do nosso “herói de collants”( não queria abandonar o texto sem mencionar a delirante paródia de Mel Brooks).

Contudo, não é só de ideias que se faz um filme, neste caso era preciso o compromisso para com a subserviência do espetáculo (mesmo que o filme tende em esforçar-se nos stunts e nas coreografias de ação). É uma obra falhada (sem referir à viciosa fixação pela “vilania” do ateísmo), mas em certa parte um fracasso saído da caixa e tendo em conta a homogénea indústria de entretenimento … bem, já sabem.  Ponto final para a conversa, que bom recordar o “desaparecido” F. Murray Abraham.