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«Outlaw King» (Legítimo Rei) por Jorge Pereira

Há tanta decapitação no filme e ainda assim as pessoas querem falar sobre o meu pénis“, Chris Pine

Não é bom sinal quando se apresenta um filme no Festival de Toronto e aquilo que mais se fala é de uma cena de nudez frontal da personagem principal, Robert Bruce, conhecido por Robert I da Escócia, interpretada por Chris Pine. A cena em si é absurdamente rápida e inexpressiva, por isso quando se pensa no burburinho que criou, é apenas mais um sintoma que todo o filme em questão não tinha nada mais para dizer ou mostrar.

Na verdade, Legítimo Rei são duas horas desperdiçadas, que até podiam ser 2h20 se a versão original apresentada no Canadá não tivesse sido cortada após queixas do público. Porém, o grande problema do filme não é o tempo, ritmo, ou até a realização propriamente dita, mas sim um argumento em modo fórmula que nunca tenta ser algo mais para além de uma espécie de sequela esquemática de Braveheart. A pouca profundidade das personagens principais, a fraca direção de alguns atores (Billy Howle é uma nódoa, um “fratboy” em terra de adultos), e a pobre ligação entre os elementos dramáticos, o humor, e a tensão das batalhas são ainda precalços.

Entenda-se que Legítimo Rei começa de maneira muito, mas muito dinâmica. Somos presenteados com um plano sequência de quase 10 minutos onde assistimos à rendição e nova submissão dos escoceses perante os ingleses, um duelo de espada entre Robert Bruce (Pine) e Edward (Howle), o príncipe de Gales, e ainda uma catapulta a lançar uma bola de fogo contra um castelo, apenas e só porque já tinham gasto dinheiro na sua construção. Ao ver este início, até se percebe que David Mackenzie tem talento e ideias no lugar certo, mas isso nem era preciso ele provar por aqui, pois já o conhecíamos de Hell or High Water – Custe o Que Custar!

 

O problema é que a certo momento parece que MacKenzie, mesmo brilhando com a técnica (escolha de planos, cinematografia que acentua as paisagens da Escócia, banda-sonora a condizer, etc), não consegue sair das amarras das banalidades dos filmes históricos que se querem forçosamente épicos sem explorar convenientemente as suas personagens. A bem ver, Mackenzie, o coargumentista*, falha na construção do texto (diálogos pobres, factos históricos que cabiam em meia página de um livro), das personagens (resumidas a boas pessoas ou más, preto ou branco, sem ambiguidades ou zonas cinzentas), e cai no esquematismo (nos conflitos, nos dramas pessoais, no romance de cordel pelo meio), tornando-se o filme estranhamente previsível, onde a única espetacularidade vem da crueza das batalhas e de não existir o medo de mostrar sangue e tripas. 

Resta-nos agora esperar por Robert the Bruce, um outro filme que está a ser preparado em torno da personagem e que contará no protagonismo com Angus Macfadyen, conhecido por ter sido Robert Bruce em Braveheart (1995).


Jorge Pereira

* Mackenzie escreveu o guião com Bathsheba Doran, James MacInnes, David Harrower e Mark Bomback