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«Ideal Home» (A Casa Ideal) por Jorge Pereira

No final dos créditos deste Ideal Home são apresentadas fotos reais de casais gay com crianças que estão a educar, tudo ao som de “Family” de Holly Palmer. Legítima forma de ativismo, o certo é que aí se denota uma ação de certa forma escusada, quando deveria bastar todo o filme que assistimos para mostrar que a cabeça e o coração da narrativa estão no lugar certo.

Steve Coogan é Erasmus Bramble, o Chef de um programa de TV, e Paul Rudd é Paul, um realizador desse mesmo programa. Eles são um casal que vive num rancho “très chic” em Santa Fé, no Novo México (EUA). O seu estatuto burguês é contemplado com a permanente boémia, o exotismo, o hedonismo, mas tudo ganha uma nova forma quando o neto de Coogan [Angel/Bill (Jack Gore], um jovem reservado de um meio muito diferente, lhe aparece em casa. Há muitos anos atrás, Coogan teve um caso com uma mulher, daí nasceu um filho do qual ele nunca se interessou, e por sua vez esse filho agora foi preso, deixando a criança desamparada.

O problema desta fita é que no seu desenvolvimento e na soma das partes dramáticas e de humor, o que mais consegue é caricaturar tudo e todos (homens, mulheres, homossexuais, heterossexuais, britânicos, americanos, adultos, crianças) e seguir todos os lugares comuns da narrativa, tornando-se extremamente previsível, um crowd pleaser datado com toques de farsa (ainda é cliché os homens não quererem cuidar de crianças porque eles mesmo são umas “crianças”).

Assim, Ideal Home é uma espécie de 3 Homens e Um Bebé sobre homens confrontados com uma criança que se veem obrigados a adaptar a sua forma de estar na vida ao adquirir novas responsabilidades parentais. Essa transposição – ao jeito de comédia de costumes com permanentes conflitos entre o que os adultos estão habituados e gostam e o que miúdo quer (ele odeia a decoração, as roupas, a comida)- criam várias situações cómicas, mas exploram de forma demasiado tímida (e superficial) os preconceitos da sociedade e das instituições públicas para com a situação.

Na verdade, o filme está crente que a ironia, o sarcasmo e irreverência das personagens são suficientes para entregar um projeto com humor e poder para uma pseudo reflexão (até para o crescimento mental dos Peter Pan’s deste mundo), mas na verdade assume-se apenas como um veículo de entretenimento imediato e esquecível que sobrevive pelo carisma de Coogan e Rudd.


Jorge Pereira