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Fahrenheit 11/9: a desforra da política espetáculo

Neutralidade em terrenos pantanosos da politica, Michael Moore é tudo aquilo que não poderíamos esperar dessas visões ambíguas, e com Fahrenheit 11/9 deparamos com as desilusões de um democrata que através das suas angustias procura a resposta para a ascensão do “trumpismo”. Possivelmente, é com essa “derrota” que encontramos em Moore no seu filme mais cinzento, pessimista e igualmente esperançoso.

Como isto aconteceu?” questiona o documentarista/cineasta face à tomada de posse de Donald J. Trump, um candidato improvável, a anedota de toda uma campanha eleitoral que conseguiu atingir a sala oval da Casa Branca. “Como isso aconteceu?”, novamente perguntando, e ao invés de ceder às teorias da conspiração dos hackers russos, Moore esmiúça todo o percurso do seu partido, conduzindo para palcos iluminados o agora Presidente dos EUA.

Como obra, Fahrenheit 11/9, assim como nome indica, não se afasta em termos teorizados do seu antecessor [prequela], o humor (ou diríamos antes a sua ironia trocista) contagia toda esta investigação de causas e efeitos como um embrião de Infotainment (subgénero de programas que combinam informação noticiosa com o entretenimento de sketches). Por um lado, como forma, não existe nada que nos afaste do registo já celebrado por Moore. Por outro, o seu tom leva-nos a crer que o realizador prepara-se para aceder a uma nova etapa da sua carreira e, quiçá, o inicio de um homem novo.

Mas onde Fahrenheit 11/9 contagia (novamente, não como produto de Cinema), é na sua alusão orwelliana. A esperança está nos proles”, assim aclamava o protagonista do romance 1984, declaração que em Farhenheit 11/9 reformula para a “esperança está nos jovens”. Mas que jovens “esperançosos” são esses? Jovens, cujo ativismo providente da “flor da idade” em conjunto com uma revoltante humanidade, a geração “enganada” e sufocantes pelos seus antepassados e os seus pais, se viram para a politica com tamanho fervor e solução para as suas indignações. Moore leva-nos a crer, que os “tais” são a luz na escuridão, a premonição de um novo ideal. Quem sabe, um novo mundo que nos aguarda. Porém, a nós, basta apenas … aguardar.