Sexta-feira, 19 Abril

«Please Stand By» (Um Novo Caminho) por Raquel Soares

Please Stand By é um filme sobre autismo feito por pessoas que nunca o experimentaram (à exceção de alguns atores com papéis menores). O realizador Ben Lewis afirma que a inspiração chegou quando encontrou uma artigo sobre como é ser uma jovem que sofre de autismo. Neste, uma das entrevistadas confessou que escrevia enormes fanfics sobre o universo de Harry Potter e foi então que Lewis (que já abordou outras dificuldades com The Sessions, em 2012) achou que ali existia uma história que precisava de ser contada.

Os filmes que representam autismo, tal como outro tipo de doenças da psique, muitas vezes ficam aquém, ou por falta de conhecimento da condição ou por centrar a personalidade do protagonista, na doença, representando apenas a concha da pessoa. Por isso ficamos com dúvidas se nesta história existe raízes suficientes para crescer.

Ao contrário do que apresentava o movimento publicitário, os temas ligado à ficção científica são explorados de forma superficial. Nunca chega a apresentar-se como uma reflexão de interesse sobre o poder que as histórias possuem no individuo ou sobre o que realmente liga esta adolescente que tem tanta dificuldade a conectar-se com o mundo a outras realidades inventadas. Quando esta reflexão é trazida “para a mesa” é feita de forma incrivelmente superficial. Assim, as questões relacionadas com a cultura nerd são apenas um acessório ao filme, um instrumento para mover narrativamente e não a sua base. Apesar disso, Please Stand By Me faz alguns paralelos tocantes no sentido em que expõe a realidade contra a escrita em destaque.

A base torna-se então o autismo, principalmente sobre o quão difícil é atingir o que se pretende tendo estas limitações e como é importante superares a ti próprio. Tal registo poderá ser interpretado de modo observacional parra os que tem de cuidar das pessoas com autismo. Dakota Fanning demonstra sensibilidade no seu desempenho, a protagonista demonstra força e determinação, apesar dos momentos em que a doença soberana a sobrecarrega. Com isso, o filme ganha vida, não impendido de nos conectar com a Wendy nesta realidade forasteira para a maioria de nós.

Quando retiramos este elemento do autismo, a história apresentada é em si bastante simples. Mostrando um enredo semelhante ao que já vimos em muitos outros do género (poucas personagens, motivações muito óbvias e por isso um desenlace previsível), este torna-se assim num filme pouco memorável. Os contratempos desnecessários e as coincidências que faziam a narrativa avançar, enfraquecem a história, tirando-lhe a originalidade. Podemos até afirmar que existe pouca tentativa da parte cinematográfica, não aproveitando todo o seu potencial.

Assim, Please Stand By apresenta um retrato fiel do autismo (segundo especialistas na área), feito de forma sensível e preocupada. No entanto, não passa apenas de uma história amorosa com pouco do que lhe dá destaque, ficando assim num morno meio competente.

Raquel Soares

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