Terça-feira, 19 Março

«Bad Times At The El Royale» (Sete Estranhos no El Royale) por Jorge Pereira

Drew Goddard começou a dar nas vistas pelas sucessiva colaborações com Joss Whedon – Buffy, Angel – até chegar a JJ Abrams (Lost, Cloverfield), estreando-se na realização com o dedo do primeiro na escrita, com A Casa na Floresta.

A estilização dos elementos (imagens, décors, personagens), os segredos narrativos (manipulação da linha cronológica, os twists), a atmosfera pesada e nervosa (entre o mistério e o terror) e algum humor (esparso, mas presente) são marcas pessoais aplicadas neste Sete Estranhos no El Royale, projeto auto-consciente (e indulgente) nas suas homenagens e influências, mas que se perde dentro do seu próprio novelo nas suas extensas e exaustivas duas horas e vinte minutos.

Profundamente influenciado pela literatura clássica policial, pelo cinema noir (anos 40 e 50), Sete Estranhos no El Royale decorre num hotel bizarro com uma forte mística com o seu passado – ao estilo o Overlook em Shining. É aí que chegam em busca de alojamento – simultaneamente – várias personagens, todas elas com segredos, mentiras e motivações por revelar. Quem trabalha no hotel não é diferente, ficando o espectador entregue a uma série de almas que diz ser o que não é, sendo tudo decifrado a conta gotas com recurso a revelações anacrónicas e múltiplas perspectivas.

Visualmente e sonoramente bem trabalhado no que diz respeito ao seu ambiente (Klute, Barton Fink e Do Fundo do Coração estão na lista de estudo de Goddard e Seamus McGarvey, o diretor de fotografia), Sete Estranhos no El Royale sente ainda fortemente o toque estiloso do cineasta no arranhar influências retro e kitch ao poliziesco, ao humor em ambientes pesados (dos Coen) e à meta violência “Tarantinesca”. Exemplo cabal desta última parte é a chegada tardia em cena de Chris Hemsworth, o líder de um culto que se passeia extensivamente pelo ecrã em tronco nú a fazer lembrar um Charles Manson com mais sex appeal que mística . E não está Tarantino a fazer o seu próprio filme sobre esta época com Manson ao barulho?

Pois bem, este melting pot com o complexo de Húbris tem um impacto imediato na desenvoltura do filme e da sua narrativa, certamente densa e insolente, mas cadavérica na sua clarividência e destreza, sobrevivendo principalmente mais pelo poder da sugestão – daquilo que não é explicado tintim por tintim – do que pela busca incessante e nervosa do twist que normalmente acaba por ser menos interessante do que o cineasta almeja. De certa forma, Casa na Floresta já era assim.

Ainda assim, palmas para os atores, com Jeff Bridges, Cynthia Erivo e John Ham a darem o mote no que toca a carisma, charme e eficácia, enquanto Dakota Johnson, Lewis Pullman e o já referido Hemsworth cumprem sem nunca brilhar ou sequer convencerem.


Jorge Pereira

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