Terça-feira, 19 Março

«Minga et la cuillère cassée» por Jorge Pereira

 

É complicado avaliar um primeiro filme, mas quando essa obra se trata da primeira longa-metragem de animação 100% produzida nos Camarões, é ainda mais difícil pois não existem no território ou nas proximidades produções que sirvam para comparação. O resultado é uma saída desse sistema e termos de comparar com outras produções do género, muito mais ricas em meios e experiência, tornando-se assim uma tarefa ingrata pois os meios aqui presentes neste Minga et la cuillère cassée são extremamente mais limitados.

São claras as limitações no traço, desenho e até cores deste Minga et la cuillère cassée, embora seja indesmentível que há um enorme esforço e paixão em enraizar toda a alma do conceito no misticismo e cultura local.

Minga é uma jovem órfã, expulsa da casa da família pela sua madrasta. A razão para isso é que Minga partiu uma colher de grande valor, e ela terá agora de encontrar outra colher para poder ser aceite de volta. Metendo-se pela floresta, Minga vai interagindo com uma série de personagens, estando entre elas um feiticeiro, um príncipe e até um animal selvagem. Se o tom de fábula nunca abandona o conceito – e a base inicial parece uma variação da história da Cinderela -, a verdade é que Minga et la cuillère cassée consegue nos transmitir muito das histórias locais e a cultura dos Camarões para nos entregar uma história com objetivos morais em torno de conceitos de família, amor e materialismo. O problema são os lugares comuns, a superficialidade, normatividade e “facilidade” com que tudo é entregue, sendo acima de tudo um projeto ingénuo e infantilizado em demasia.

E se muitos poderão torcer o nariz à técnica 2D aqui aplicada, já que são inundados por animações no cinema, TV e internet com muito mais qualidade, mais difícil será ultrapassar a história e momentos musicais que embora energéticos revelam-se muito pouco trabalhados em termos narrativos.


Jorge Pereira

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