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«Le Grain Bain» (Ou Nadas ou Afundas) por Jorge Pereira

Estávamos em 1997 quando surgia nos cinemas The Full Mounty (Ou Tudo ou Nada), comédia com tons dramáticos sobre um grupo de ex-desempregados da indústria metalúrgica de Sheffield, na Inglaterra, que decide montar um show de “striptease” para as mulheres da região. O filme foi um sucesso mundial, não só pelo seu carácter de entretenimento para as massas (um crowd pleaser no sentido literal), como foi bem aceite pela crítica, chegando mesmo às nomeações aos Óscares. Um dos pontos centrais desse filme era a depressão e a falta de autoestima que esses homens sentiram após a situação de desemprego e como a criação do espetáculo revitalizou a sua confiança e deu um novo alento para as suas vidas.

É importante começar por The Full Mounty para chegar a Le Grain Bain (Ou Nadas ou Afundas) de Gilles Lellouche, a sua segunda longa-metragem na realização (à qual se adicionam segmentos filmados de outras duas). Dentro das suas peculiaridades, Le Grain Bain partilha muito do espírito e alma desse filme britânico assinado por Peter Cattaneo. Aqui temos um grupo de homens, cada um com os seus problemas pessoais, mas unidos numa teia de infelicidade, que procuram numa equipa de natação sincronizada masculina um reconhecimento maior que aquele que têm nos seus empregos e na vida em geral que levam.

As suas reuniões no balneário são verdadeiras terapias de grupo, expondo todos as suas debilidades, problemas, mas acima de tudo, revelações de profunda solidão, muitas vezes mascarada por uma fachada de aparente estado de graça. E embora o filme se foque na personagem interpretada por Mathieu Amalric, um desempregado depressivo que tem na esposa o seu grande amparo, o filme oferece um olhar humano e sensível – mas sem condescendências – a outras personagens, como as de Guillaume Canet e Benoît Poelvoorde, repletos de dúvidas existenciais. Por outro lado, as tutoras dessa equipe -Virginie Efira, Leïla Bekhti – também elas têm sonhos destruídos e dores muito próprias, encontrando na equipa uma forma de auto-ajuda para regressarem aos seus tempos de confiança e alegria. Na verdade, e se pensarmos bem, praticamente todas as personagens por aqui são a personificação dos sonhos desfeitos e de uma procura para encontrar o seu lugar no mundo atual.

Lellouche gere bem o núcleo dramático da história, não sem alguns tropeções, alguma palha narrativa (filme demasiado longo), uma enorme previsibilidade (nas soluções e conclusões) e naturalmente influências, sentido-se também alguns tiques do cinema de Olivier Nakache & Éric Toledano (de Amigos Improváveis) na forma de chegar ao sentimento de encontrar uma segunda vida. Por tal, Le Grain Bain é um filme com algum interesse e sentimento, mas poderia ser muito mais do que realmente é…