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«The House with a Clock in Its Walls» (O Mistério da Casa do Relógio) por Jorge Pereira

O nome de Eli Roth sempre esteve associado ao cinema do macabro, muitas vezes recheado de gore, ultra violência, canibalismo ou assassinos psicopatas. Quando se vê o tom infanto-juvenil deste O Mistério da Casa do Relógio, talvez se perceba que o cineasta pode estar a fazer o que um dos seus grandes ídolos (que até surgiu em Hostel num cameo) faz há décadas. Falamos de Takashi Miike, capaz de filmar um filme tortuoso na sua maldade, crueldade e visceralidade ou um trabalho para miúdos divertidos e sempre estridentes. E fá-lo no mesmo ano, “sem espinhas”.

O início de O Mistério da Casa do Relógio diz logo tudo e se não soubéssemos que era Roth a realizar, pensaríamos num Spielberg ou Zemeckis a filmar qualquer coisa de Charles Dickens com uns toques de Sonnenfeld (A Família Adams).

Estamos em 1955, em New Zebedee e Lewis Barnavelt (Owen Vaccaro) é um jovem que chega à cidade para viver com o tio  (Jack Black) após os pais faleceram num acidente. Esse tio excêntrico (não é um robe que tem vestido, mas um quimono) é um feiticeiro que vive perto da também bruxa Florence Zimmerman (Cate Blanchett) numa casa repleta de “vida” e magia. Se Jack Black encaixa bem como o familiar exótico e estapafúrdio com a aparência de um ilusionista barato, já Blanchet dá uma frieza e seriedade à sua personagem que balança bem a relação dos dois, meramente platónica mas capaz de produzir momentos de química de forma orgânica.

Com uma nova vida, numa nova cidade, e com novos amigos, o pequeno rapaz vai sentir a dureza da infância como um ser estranho e bizarro que anda de óculos de proteção como o seu herói da TV, o Captain Midnight, cimentando a sua solidão com o sentido de perda, em especial em relação à mãe.

Não há absolutamente nada de novo por aqui e tudo nos soa a incrivelmente familiar, para não dizer derivativo, por isso quando ouvimos Jack Black a proibir o sobrinho de abrir um armário na sua mansão, sabemos que esse é o fruto proibido e apetecido que dará dinâmica ao enredo fantasista que se segue. O resultado final é um filme extremamente confortável em tocar em todos os lugares comuns com claros objetivos de iniciar um novo franchise, sendo na prestação dos atores que surgem as mais valias, especialmente quando Kyle MacLachlan aparece em cena como o grande antagonista, mesmo que o último terço demasiado carregado de computação gráfica e sequências sobrenaturais nos afaste do tom emocional exigido.

Por tal, O Mistério da Casa do Relógio até deve ser valorizada pelo tom nostálgico e clássico referencial com que é construído (sempre tendo como base a obra literária de John Bellairs, da década de 1970), mas no final fica a sensação que este é um filme que sobressai pelos detalhes (e não pelo seu todo) e que chega tarde demais.


Jorge Pereira