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«Errementari (El herrero y el diablo)» por Jorge Pereira

Os bascos, até como forma identitária, sempre traspassaram as suas raízes na sua cultura. Nos últimos anos, o cinema local – muito apoiado pela divulgação no Festival de San Sebastián- têm vincado essa ligação através de diversas obras, sejam elas dramas humanos com elementos históricos (Handia), policiais de tom nórdicos “Hollywoodeanos” de contornos místicos (El Guardian Invisible), dramas repletos de afetividade e bons timings de romance (Loreak), ou terror demoníaco e étnico como este Errementari. El herrero e o diabo.

Primeira longa-metragem do prolífico diretor de curtas Paul Urkijo, o filme reclama para si uma viagem ao folclore basco, munindo-se para isso da adaptação de um conto local do início do século passado (Patxi Errementaria) sobre demónios encurralados e enganados enquanto procuram negociar almas com os homens. Tudo começa nas Guerras Carlistas (também mencionadas em Handia) e a personagem central é um estranho e poderoso ferreiro do qual todos têm medo, até o Diabo. Aos poucos vamos descobrindo o porquê, numa viagem sobrenatural que nunca tem medo de se mostrar graficamente absurda e às vezes até ridícula. E sim, há aldeões miseráveis, crianças em pânico com o bicho papão (o ferreiro), outras que nem por isso (a nossa pequena heroína), e figuras externas ligadas ao governo central que funcionam eles mesmo como o diabo para essas gentes: com o qual se negoceia e se vende a alma.

O resultado final é um filme curioso, mais pelo que conta do que pelo que mostra, capaz de entreter, assustar e dramatizar eventos historicamente, com os atores em boa forma e uma cinematografia e bandas-sonora sempre prontos a desmontar a cultura e a vida basca. Não fosse o final – um pouco caótico e demasiado espampanante – e o filme poderia ter mais mística e sugestão que o assalto visual demasiado explícito entregue com menos meios do que os que devia ter. Mas não é isso que lhe retira valor, ou força para deixar de ser um objeto curioso que merece uma olhadela, nem que seja pela natural e óbvia paixão que o realizador mostra pelo material.


Jorge Pereira