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«Brother’s Nest» por Jorge Pereira

Seria impossível falar de Brother’s Nest sem chamar à conversa Blood Simple (Sangue por Sangue) e Fargo dos irmãos Coen. O tom, o enredo criminal, as relações familiares, as personagens atípicas e até a banda-sonora do já clássico de 1996 ecoam nesta obra que volta a reunir o duo de irmãos australianos Shane e Clayton Jacobson, eles que em 2006 trabalharam juntos num surpreendente sucesso local: o mockumentary Kenny.

Aqui, a dupla vem mostrar como a resolução de “some family shit” pode ser feita de forma tão absurda, que o espectador sente-se a balançar entre a tragédia grega absurda e a comédia negra da linhagem Coen.

Jeff e Terry são dois irmãos que se preparam para matar o padrasto, Rodger (Kim Gyngell). Ao longo de mais de metade do filme, assistimos aos preparativos, os cuidados, com o primeiro a falar de todos os detalhes milimetricamente para fazer – aquilo que crê ser – o crime perfeito. A relação entre os dois não é perfeita, a com a sua família (como se pode imaginar) também não. A dupla vai mostrando pedaços da sua vida e as razões para o crime à medida que se vai preparando com isso. Clayton Jacobson, que realiza, podia muito bem se categorizar como encenador, pois todo este filme facilmente se materializava num palco teatral, não fosse a ação quase toda articulada dentro de uma casa, em dois ou três espaços que também mostram a ligação do duo de irmãos à história e vivência no local.

Claro está que as coisas não correm como planeado e no último terço do filme assistimos a um tentar controlar uma situação incontrolável. Curiosamente, quer no guião, quer na realização, o caos nunca vem ao de cima, preservando-se uma estranha e tensa contenção, com a cinematografia a carregar os espaços de cores vivas laranja que trespassam isso mesmo e a iluminação e planos a darem clarividência e luminosidade à obscuridade das personagens, eventos e espaços. Para tudo isto contribui também a natural química dos atores, com Jeff e Terry a mostrarem tanta empatia como desconforto, quer um com o outro, quer com toda a situação e diferentes personagens. 

Por todas estas razões, Brother’s Nest é um filme que merece uma olhadela atenta, mesmo que não deslumbre.


Jorge Pereira