Chega a ser frustrante estas tentativas de explorar um cinema de género no panorama português e Inner Ghosts, uma produção com quase quatro anos (e o desaparecimento do realizador original, João Alves), veio confirmar esse suplicio.

Aqui seguimos Helen (Celia Williams), uma mulher seguida pela tragédia que divide a sua vida com a investigação médica e o seu dom pelo sobrenatural. Decidida em abraçar estes dois mundos tão opostos numa só ciência após a morte da sua mentora, ela abrirá “portas” que não deveriam ser abertas e “fantasmas interiores” que não podem ser revelados. Isto é tudo o que precisamos saber para arrancar um filme com inteira consciência da sua fraude Advertimos os espectadores que não existem graças nestas preces da mesma forma que não existe originalidade nesta criação.

Para além de copista dos territórios à James Wan que têm se apoderado do boca-a-boca da industria de terror (a própria Celia Williams tem muito de Lin Shaye da saga Insidious, e não são coincidências), Inner Ghosts atenta-se com um falta de noção de ridículo tendo em conta a seriedade transmitida. O seu ritmo desvanece por uma longa e apática introdução, provando (ou tentando) com isto ser o mais esperto da sala, um Deus entre formigas, para no final ostentar um resultado inglório embalsamado por climaxes apressados e estampados às três pancadas (para epiléticos, o final é mesmo a evitar).

O que este filme de Paulo Leite destaca-se dentro do panorama português (sublinha-se português para que não haja dúvidas) é o esforço na área visual, desde a caracterização a outros efeitos visuais algo modestos. Só que essa “arte”, assim chamaremos, é insuficiente para nos salvar de um produto com aspirações globais (português só de teoria, porque na pratica temos inglês para mercado internacional ver), mas que se fica pelo requintado medicamento genérico. No cinema de género, convém avançar para não se reter no conformismo oportunista e Inner Ghosts aprecia, mais que tudo, ficar pela última estância.

Nesse aspeto, a mais recente aposta de série B lusitana, As Linhas de Sangue, saiu-se mais corajoso, mesmo fracassando pelas óbvias razões.