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«The Promise» por Jorge Pereira

Sophon Sakdaphisit tem sido uma das forças do cinema tailandês fantástico desde que em 2004 co-escreveu Shutter. Com Fobia (2008) e The Swimmers (2014), o cineasta marcou a sua posição no cinema local e internacional (o último foi exibido no MotelX) e neste The Promise cimenta o seu estatuto, isto embora não apresente um trabalho verdadeiramente novo em termos de tema ou na sua construção fílmica.

Ainda assim, a primeira metade do filme é extremamente eficaz e competente ao contar a história de duas amigas inseparáveis que fazem um pacto suicida mas que só uma delas cumpre. A história começa no fim dos anos 1990. A crise económica da Tailândia e a massiva descida do valor da moeda local leva à implosão do mercado imobiliário, facto que afecta as famílias da suas jovens e todo país, sucedendo-se os suicídios. Passamos então para os tempos atuais. A jovem que não se suicidou tem agora uma filha e é uma empresária de sucesso no ramo imobiliário. Quando ela tenta pegar na torre de negócios abandonada anos antes pelo pai devido à crise, o “fantasma” da amiga começa a atormentá-la, usando a filha como principal veículo para isso.

O resto é o que se espera de um filme de espíritos vingativos. Na Tailândia, este é um assunto sério – quando os espíritos não foram encaminhados convenientemente para o além, ficam a pernoitar junto dos vivos. Apesar de algumas incursões muito locais, como as histórias de Nang Nak, Lhorn ou do cinema dos Irmãos Pang (The Eye é o mais famoso), o cinema tailandês andou sempre em sintonia com o (mercado do) cinema japonês e coreano de terror, até na forma sentimental/lamecha no retrato de amizades (a banda-sonora intrusiva é tão carregada que nos diz quando devemos nos emocionar, assustar, etc), sendo este The Promise um descendente desse mesmo género de filmes, com um ato do passado a vir ao de cima para atormentar os vivos, na forma de contas a ajustar de forma sobrenatural.

Como já disse, a primeira metade do filme é bastante decente, embora nada inovadora, sendo a segunda metade uma repetição extensa dos jumpscares e modus operandi emocional sem grandes resultados. E embora Sakdaphisit saiba filmar (belos planos aéreos e zénite) e tente manter o espectador preso no seu enredo – que até se aventura pela crise económica – sem nunca apresentar um fantasma estilizado ou  “físico”, nunca consegue realmente nos cativar para além do filme rotineiro e previsível como tantas obras do género.

Vale a boa ligação entre os espíritos e as novas tecnologias, com telemóveis a detectarem rostos onde eles não existem (não são visíveis para os vivos) e para a ligação à tecnologia do passado, com os pagers a serem repescados e a surgirem em cena de forma nostálgica .

 


Jorge Pereira