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«The Meg» (Meg: Tubarão Gigante) por Hugo Gomes

Cada geração tem o Jaws que merece! Com isto, nem me atrevo a aproximar ambos os filmes, sendo que o esqualo de Steven Spielberg foi um dos grandes estabilizadores/desestabilizadores das produções estivais. The Meg – por seu turno – é o espelho da Hollywood de hoje, ou para ser mais preciso e furtivo, das audiências que povoam as salas existentes.

Foram precisos quase 20 anos para que fosse possível adaptar o livro de Steve Alten, uma obra ficcional que tem em conta um achado arqueológico e sobretudo um mito criptozoológico (há quem realmente acredite que tal “bicho” povoa os nossos atuais oceanos), para chegarmos à conclusão que não existe uma real alma que demonstre credibilidade neste retrato oceanográfico e biológico. Ao invés disso, The Meg (diminutivo de Megalodon, o dito e reaparecido tubarão pré-histórico) nada pacificamente com as inúmeras produções de livre jubilo que por si auxiliaram em tornar o tubarão numa espécie de ícone de cultura popular (Sharknado, Ghost Sharks, enfim … um muito obrigado a Roger Corman).

Contudo, esta nova “mandibula” detém ao seu dispor estrelas de cariz internacional (Jason Statham, Li Bingbing e Ruby Rose) e um orçamento avantajado que lhe dá a obrigação de apostar frente e forte no sistema do blockbuster sério e absolutamente estival. Devido a essa postura de confiança na sua “própria ciência”, The Meg converte-se num objeto ignorante, afogado pela régua e esquadro da indústria que se insere e pela grandiloquência (ou falta dela) no tecnológico. É tudo ensanduichado num equação de Jaws3, a tentativa era deter o seu recorde, ou diríamos antes, a sua prestação. Nessas aptidões, falta, absolutamente a capacidade de requisitar o suspense, de criar a sensação de perigo e a textura garantida pelos animatrónicos (ao invés da sobre-exposição de um turbarão computorizado).

Caímos em semi-desgraça quando percebemos das intenções “disfarçadas” dos nossos amigos produtores – o de entreter massas e assumir-se como um divertimento desmiolado. A verdade é que já se torna demasiado pejorativo esta tendência de “desmiolado”, querendo intensificar um senso comum iletrado (de que o entretenimento e cérebro são incompatíveis como água e azeite). Felizmente, no meio desta vacuidade salobra, temos Rainn Wilson a contrariar uma resistente tendência (aleluia!), a que a “humanidade” só é própria das classes mais proletarias e que tudo o resto é umbiguismo liberal.

Hugo Gomes