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«American Animals: O Assalto» por Jorge Pereira

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A história é mirabolante e rocambolesca, mas totalmente baseada em factos reais. Ou seja, estamos perante uma daquelas histórias tão estranhas e absurdas que só podiam ser verdade. E que melhor maneira que contá-la senão através de ficção intercalada com um registo documental com a própria presença das pessoas reais em causa? Sim, American Animals viaja entre géneros, entre o passado e presente cruzando-se os elementos numa narrativa existencial de um “heist movie” vigoroso e com humor.

Estamos em 2004, em Lexington, no Kentucky. Um grupo de colegas da Universidade decide realizar um assalto. O alvo é Birds of America, um livro com pinturas de John James Audubon, e uma edição literária de A Origem das Espécies, de Charles Darwin. Na verdade, eles não precisam do dinheiro que essas obras podem render – acima dos milhões de dólares – e avançam com o plano munindo-se da cultura pop, nomeadamente de inúmeros filmes de assaltos, como os marcantes Rififi, Quando a Cidade dorme e Oceans Eleven, que a certa altura se veem numa prateleira de DVDs. Isto e a internet são as fontes de investigação para o golpe e também inspirações para o próprio filme em si.

Esta ideia dos jovens tem tanto de estranha como de ingénua e, como seria de esperar, o golpe não corre inteiramente como planeado. Bart Layton vai mostrando os eventos ficcionalizados intercalados com pequenos depoimentos das personagens reais, criando um híbrido que se sente mais como ficção do que documentário de mera reconstituição, embora nunca abandone ou se desprenda totalmente desse registo.

A verdade é que o conceito – embora nunca exploda ou seja realmente brilhante – funciona de forma impressionante e bem balanceada, com os atores a entregarem prestações seguras e credíveis e as suas fontes de inspiração a explicarem as motivações de forma empática, mas não se desculpabilizando. Aqui só admira mesmo que este projeto não tenha sido adquirido pela Netflix, até porque grande parte do seu catálogo foca-se em objetos criminais assim, entre a ficção e o documentário, mesmo em algumas das suas comédias (como American Vandal)

Por isso mesmo, American Animals merece uma olhadela e Layton – que já tinha brilhado em 2012 com o documentário The Imposter – sublinha aqui que é um cineasta a seguir, nos documentários, nas ficções e agora em híbridos.

A ver…


Jorge Pereira