Quinta-feira, 28 Março

«La ch’tite famille» (A Minha Família do Norte) por Jorge Pereira

Apesar de ter uma carreira profícua desde a segunda metade dos anos 90, foi em 2008 com Bem-Vindos ao Norte – o maior sucesso francês de todos os tempos – que Dany Boon explodiu como um dos atores e realizadores franceses mais famosos e “bancáveis”, conseguindo cachés monstruosos nas suas produções que se se seguiram e exportanto mesmo o conceito para versões similares da sua obra, como o italiano Bem-Vindos ao Sul.

Neste A Minha Família do Norte, Boon regressa às suas origens, ele que sempre reivindicou as suas raízes e identidade Ch’ti, e enriquece o seu curriculum com uma comédia de costumes que se baseia nos clichés e preconceitos da sua região natal por parte de outras regiões francesas, em especial da zona de Paris. Aqui ele é um arquiteto famoso que vive na capital e que vai receber em jeito de surpresa a visita do irmão, da cunhada, da sobrinha e da mãe. O objetivo da visita é celebrar os anos da matriarca, mas também ajudar o irmão financeiramente. O problema é que Boon e a sua personagem renegam o passado, omitem de todos as suas raízes nortenhas, levando a uma série de peripécias que a certo ponto o fazem reassumir o seu legado e as origens.

Boon, o realizador e argumentista, joga com vários elementos da comédia de costumes, mas também com o tipo de humor em que a sua personagem se torna amnésica em Paris e só se lembra dos tempos que vivia do norte. O resultado é uma comédia com todo o tipo de “gags”, em certos momentos espalhafatosa, mas sempre familiar e com uma moral por trás que apresenta a céu aberto um objeto esquemático, embora algumas vezes divertido.

E se formos comparar com os seus últimos trabalhos, poderemos dizer que estamos perante um trabalho bem acima do infantil e patético Raid – Pelotão Chanfrado (2016), mas realmente não superior a um Rico Sovina (2016) com a chama de Bem-Vindos ao Norte.

Uma pequena aparição de Kad Merad (estrela desse filme) soa a homenagem ao sucesso que as viagens de Boon ao norte, mas a grande estrela por aqui – ainda mais que o realizador/ator – acaba por ser uma Valérie Bonneton no seu jeito desengonçado e natural, a qual já tinha trabalhado com ele em Eyjafjallajökull e Supercondríaco e que cada vez que aparece em cena vai roubando as luzes da ribalta até se ir tornando redundante e repetitiva. 

Aliás, o elenco do filme é totalmente familiar a Boon. Laurence Arné já tinha trabalhado com ele em Rico Sovina (2016), Line Renaud colaborou em A Casa dos Teus Sonhos (2006) e já tinha sido a sua mãe em Bem-Vindos ao Norte. Finalmente, temos Guy Lecluyse, o qual filma pela quarta vez com o diretor depois de Bem-Vindos ao Norte, Nada a Declarar (2010) e Supercondríaco. Realmente, esta é a família de Boon e ela é frequentemente divertida dentro da sua “fórmula” sem nada de novo para apresentar.


Jorge Pereira

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