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«Slender Man» por Jorge Pereira

Ninguém diria que Slender Man teria apenas cerca de 90 minutos, tal o tédio generalizado com que somos confrontados e que nos faz sentir que estamos a assistir a um trabalho interminável.

Na verdade, e num ano em que o cinema de horror tem manifestado a sua força (basta pensar em Um Lugar Silencioso [1] e Hereditário [2]) é curioso ver como a Sony arrisca num objeto tão letárgico que nunca arrisca absolutamente nada e que apenas parece querer sobreviver (ou existir) na base de filme de mito urbano para adolescente ver e sentir algum temor através de jump scares previsíveis num enredo inócuo mascarado de místico.

Nascido como parte de um concurso de manipulação de imagens, em 2009, que visava criar fotos paranormais, Slender Man foi aos poucos ganhando o estatuto de lenda urbana (via memes), tornando-se mesmo um caso criminal quando duas jovens com 12 anos esfaquearam uma colega em 2014. Segundo elas, a motivação do crime foi o medo do Slender Man. Este caso foi retratado no documentário Beware the Slenderman, de Irene Taylor Brodsky, um produto infinitamente superior a este soporífero da era digital e que embarca por caminhos que até o podiam cruzar com a saga The Ring e os seus últimos lançamentos (japoneses e americanos).

Ao apresentar um grupo de amigas que começam a fazer pesquisas sobre o Slender Man, que levam ao desaparecimento de uma delas, o filme entra em artifícios montados de cinema para massas sem qualquer tipo de arrojo, clarividência ou astúcia – uma espécie de Bogeyman sem nada para dizer ou mostrar. E se na primeira metade os sustos avulsos conseguem até minorar o aborrecimento generalizado, a segunda metade mal construída (um final desastroso), e com uma montagem que deixa muito a desejar, enterra definitivamente o machado num filme para ver e esquecer.

Não ajuda nada também que as jovens sejam tratadas como carne para canhão sem qualquer verdadeira identidade ou personalidade. No fundo, Slender Man consegue mostrar porque se fazem tantos remakes em Hollywood. A ausência de ideias e criatividade num filme que podia criar as regras da própria personagem revela-se um fiasco e um desperdício de talentos e dinheiro.

A evitar…


Jorge Pereira