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«Down The Dark Hall” (Corredor Assombrado) por Jorge Pereira

Não é auspicioso o regresso de Rodrigo Cortés ao cinema. Sem créditos na escrita, mas na realização e montagem, o espanhol que surpreendeu (e muito) com o seu claustrofóbico Enterrado (Buried) assina este trabalho baseado na obra homónima da escritora Louis Duncan, o único da sua carreira que entra pelos meandros da ficção gótica de inspiração Lovecraft sobre uma jovem que devido às suas explosões de raiva é levada para um internato como forma de terapia.

É na Blackboard Boarding School que ela é – conjuntamente com outras jovens problemáticas – “reaproveitada” para uma nova vida e é aí que vai ter de lidar com uma enigmática e rígida diretora, Madame Duret (Uma Thurman), cuja crença nos “quatro pilares do conhecimento” – literatura, arte, música e matemática – formam a base dos ensinamentos. Escusado será dizer que Duret esconde uma agenda secreta e que a jovem (AnnaSophia Robb) começa a passar por diversas situações que exploram o sobrenatural e tocam nos códigos do cinema de terror.

O conceito deste Corredor Assombrado (Down a Dark Hall) é propício a diversos “Jump Scares”, mas é na linha do mistério e do tom sombrio do filme “seita” que tudo funciona melhor, com a cinematografia de Jarin Blaschke (A Bruxa) e a banda-sonora de Victor Reyes (Red Lights, do mesmo realizador) a canalizarem muito do cinema de horror dos anos 60 e 70, tudo guiado por uma Uma Thurman que desde a sua primeira frase carregada de sotaque se apresenta como uma enigmática vilã pronta a manipular os seus peões (as alunas da escola) a seu belo prazer para invocar espíritos artísticos de outros tempos.

O problema é que do lado das vítimas – as jovens – aquilo que nos é oferecido são estereótipos contemporâneos de jovens problemáticas, de “misfits” tratados de forma superficial que não criam grande empatia com a audiência, muito por culpa dos seus passados planos e interpretações profundamente genéricas.

Nesta mescla geracional e de tons do cinema de terror, o filme acaba por perder-se em banalidades, poucas surpresas e derradeiramente numa mistura de estilos que lhe retiram unicidade, ambiente e um estatuto de verdadeiro temor, para além desta lavagem adolescente – tão arraçada do cinema que a produtora Stephenie Meyer (Twilight) faz – nos afastar de sentir medo ou pena das personagens. É que nesta mistura de cinema de terror gótico à antiga, com filme adolescente moderno, poderia até haver uma sensação “camp” de The Craft ( O Feitiço), mas o filme nunca parece encontrar um bom balanço, fracassando derradeiramente no seu todo, transformando-se em algo mais descartável, comum e até aborrecido do que merecia ser.


Jorge Pereira