Quarta-feira, 24 Abril

«Jefe» (O Chefe) por Jorge Pereira

A Comédia espanhola já esteve melhor e Jefe (O Chefe), apesar de conseguir entregar bons momentos muito à conta do seu protagonista, Luis Callejo, acaba por se revelar um produto repleto de resoluções fáceis que não revelam grande inteligência, mas uma fórmula com os ingredientes naturais para nos fazer rir uns momentos e esquecer rapidamente.

Neste projeto de coprodução portuguesa (Fado Filmes), César, o CEO de uma empresa de sucesso, vê no espaço de uma semana a sua vida desmoronar. Primeiro é informado que a empresa que fundou está a atravessar problemas financeiros, depois descobre que dentro dela alguém andou a desviar dinheiro, e posteriormente que a sua esposa quer o divórcio, grande parte dos bens e a custódia do filho.

Se tudo isto leva a alguma empatia pela personagem a olho nu, quando conhecemos César, essa ligação emocional vai-se desvanecendo. Nos últimos tempos (pelo que vamos assistindo), ele um irresponsável, “putañero”, tóxicomano, machista e homofóbico. A favor? É correto com os funcionários, nunca tendo despedido ninguém – mesmo em tempos de crise e reestruturações.

O ator Luis Callejo transporta às costas um filme que podia funcionar como uma ironia ou forma de sarcasmo ao capitalismo, com toques de Billy Wilder, Garry Marshall, mas que culmina de um jeito apressado, simplista e derradeiramente frustrante. E tudo porque na sua demanda de ser uma comédia com toques de romance e thriller empresarial, tudo é resumido à superfície, à ligeireza, quando claramente se pedia algo mais negro (Callejo e a sua personagem mereciam). No processo, desperdiçam-se as outras personagens, como as interpretadas por Juana Acosta e Josean Bengoetxea, a “desaparecerem” durante o filme, tal como a nossa Dalila Carmo – resumida a escassos minutos em cena.

Assinado por Sergio Barrejón, em estreia na realização de longas-metragens, o filme sofre ainda do mal de por vezes se sentir um produto televisivo, talvez pelo cineasta ter feito grande parte do seu trabalho como argumentista do pequeno ecrã, embora se tenha de dizer que alguns dos sketchs mais cómicos e hilariantes – de claras influências em The Office – sejam o melhor que o filme tem para nos oferecer.


Jorge Pereira

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