Terça-feira, 19 Março

«Mary Shelley» por Jorge Pereira

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Percebe-se como a realizadora Haifaa al-Mansour, que após O Sonho de Wadjda ficou marcada como a primeira realizadora da Arábia Saudita, se interessou pela história de Mary Shelley, uma adolescente inconformista por excelência que escreveu um dos mais marcantes livros do seu tempo, Frankenstein.

Porém, ao se focar na história da relação entre o poeta Percy Shelley e a jovem dotada Mary Wollstonecraft Godwin para tentar mostrar uma história de emancipação, Mansour perde-se num argumento confuso e derradeiramente inútil para qualquer ativismo, demonstrando que esta sua transição para o cinema de ocidental vinga mais pela técnica, que ela insiste em cada plano demonstrar.

É que no meio desse um guião pouco focado, uma montagem entre o clássico e o videoclipe, e um exercício demasiado académico nos cânones do filme de época, os próprio atores ressentem-se, com Elle Fanning a transmitir mais uma sensação de dependência do que de impetuosidade, inconformismo e idealismo como a sua história pessoal evoca.

Filha de William Godwin (precursor do anarquismo) e de Mary Wollstonecraft (escritora que influenciou o feminismo moderno, especialmente depois de ter publicado em 1792 A Vindication of the Rights of Woman), Mary é uma sobrevivente que ultrapassar vários obstáculos na sua vida pessoal – e o conservadorismo da sociedade – até escrever aquela que seria a sua obra-chave.

Contudo, esse percurso ao longo do filme de Mansour tem mais contornos de telenovela de relações e situações à frente do seu tempo do que um verdadeiro sentido de melodrama do poder de uma mulher à frente do seu tempo. A falha em transmitir um verdadeiro sentido de frenesim emocional, social e económico (o casal tinha muitas dívidas) acaba por delapidar a espinha dorsal do filme, transformando-o num objeto corriqueiro, meramente didático e muitas vezes superficial, que embora tenha momentos de beleza acaba por ser demasiado descartável e com um arco narrativo que responde muito pouco aos temas que evoca para reproduzir minimamente sensações que abalroem o espectador como Shelley merecia.


Jorge Pereira

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