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«La Melodie» (A Melodia) por Jorge Pereira

 

A história não é nova e a sensação de déjà vu é constante neste La Melodie, filme que o realizador Rachid Hami executou depois de ouvir relatos de crianças a tocarem música clássica em bairros desprivilegiados. A partir daqui construiu-se uma história em torno de Simon Daoud, um professor (Kad Merad) – não muito diferente de Clément Mathieu (Gerard Jugnot) em Os Coristas – que vai para uma escola dos subúrbios parisienses preparar um bando de alunos mal comportados de forma a que estes estejam preparados para um concerto que reúne várias outras escolas.

Merad, mais conhecido por comédias como Bem-Vindos ao Norte ou recente Alibi.com, converte-se em alguém extremamente “discreto” que exige muito mais dramatismo enquanto a sua carreira como violinista está num impasse e as relações familiares são distantes.

Hami pode ter pensado em Ken Loach na construção do seu filme, mas o que conseguiu foi mais um ligeiro Mentes Perigosas sem o drama da violência e criminalidade tão vincado, mesmo procurando uma imagem mais “elegante do cinema asiático” – de Lin Cheng-sheng ou Hou Hsiao-hsien, como ele disse em entrevista. Isso nota-se principalmente nas cenas no topo do edifício, onde a cinematografia contrasta a frieza do local com a ambiência mais quente transmitida pelo poder da música.

E embora estejamos perante uma carta aberta de amor à música clássica e o seu poder de transformação da juventude (as cenas “frias” no telhado aquecem com a música), o filme cai em demasiadas marcas e lugares comuns do género, sendo derivativo esquemático no lidar com os problemas da própria escola e com os dramas familiares dos seus jovens aprendizes. 

Na verdade,  falta-lhe acima de tudo fulgor para sair de uma certa zona de conforto, resultando numa previsível tragicomédia social com doses de sacarina e lacrimais para o grande público aplaudir. Em suma, estamos perante um crowd pleaser militante genérico.


Jorge Pereira