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«Anon» por Jorge Pereira

Nova incursão de Andrew Niccol pela ficção científica, ele que brilhou com Gattaca e que já anteriormente – em obras tão díspares como S1mone e The Truman Show (escreveu argumento) – já questionava até que ponto podemos acreditar naquilo que os nossos olhos veem.

Aqui, neste Anon, estamos num futuro onde o anonimato e a privacidade são um tema do passado e onde tudo é guardado e acedido pelas autoridades. É um mundo de uma extrema harmonia cromática com a cinematografia a “dessaturar” os tons dando uma unicidade aos espaços, uniformizando tudo e todos de forma absorvente e desapaixonada.

Ora, num futuro onde o crime se combate facilmente já que tudo o que fazemos fica armazenado, em que o Big Brother transformou a vigilância em algo quotidiano e elaborado, as coisas complicam-se quando um hacker assassino consegue aceder a esses dados e alterar as memórias dos factos que aconteceram. Poderá a sociedade aceitar que alguém esteja fora do sistema e longe do seu olhar orwelliano? Claro que não, e é isso que Clive Owen – um detetive – e a sua equipa terão de combater, mais que resolver efetivamente os homicídios e fazer cumprir a lei.

É por aqui que Owen e Seyfried – que volta a trabalhar com Niccol depois de Sem Tempo – se vão cruzar, num emaranhado cyberpunk entre os que estão registados e visíveis a todos (chamam-lhe transparência em nome da segurança) e os que “não existem” nos registos, os Anon (anónimos).

Em tempos em que as distopias voltaram a ser moda e a vigilância à distância se tornou uma realidade (Morte Limpa, de Niccol, também falava disso), projetos futuristas de clara influência no trabalho de Philip K Dick e George Orwell aglomeram-se no cinema e na TV (Black Mirror é o exemplo mais brilhante). Anon, no meio disto tudo, acaba por ser um dos trabalhos menos conseguidos de Niccol, não só porque é extremamente previsível e esquemático nos eventos e resoluções, mas também porque não consegue realmente transmitir uma verdadeira química entre o duo protagonista, perdidos em personagens muito pouco elaboradas ou conseguidas.

Em suma, estamos perante um trabalho genérico com algum potencial em termos de Home Video, não sendo assim de estranhar perceber porque vai estar disponível na Netflix, com uma breve passagem pelos cinemas por cá. Resta ainda dizer que existe um par de cenas de softcore com tão pouco engenho e arte que parecem saídas das 50 Sombras de Grey.


Jorge Pereira