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The Avengers: Infinity War: o desejo megalómano do crossover cinematográfico

Em 2012, a Marvel Studios conquistaria o seu grande objetivo até então, consolidar os seus universos num filme só – The Avengers – entretenimento corriqueiro que conflituaria o seu lado camp (direto da alma de Joss Whedon) e da “lubrificação” produtiva que o estúdio estaria a promover. A manobra foi um sucesso global, 1500 milhões de dólares rendidos para ser exato, o que levaria a Marvel a preparar uma outra visão. “Make it bigger” alguém terá dito ao produtor executivo Kevin Feige de modo a preparar com muita antemão este Infinity War, o totalizado crossover dos sucessos garantidos deste universo.

Até à chegada desta Guerra Infinita, muito a Marvel experimentou (sem sair dos parâmetros estabelecidos do estúdio). Aí nesse espaço decorreu de tudo, desde os altos (Guardians of the Galaxy [1], Thor: Ragnarok [2] e Black Panther [3]) a pontos baixos (Thor: Dark World [4], Captain America: Civil War [5]), não apenas forma a expandir um universo partilhado (a definição literal de world building cinematográfico), mas como encontrar um realizador capaz de segurar tão ambicioso projeto. Com o despacho de Whedon num segundo e tremelico The Avengers, a Marvel arranjou, não um, mas dois realizadores pronto a abordar a mais arriscada missão dos “mightiest heroes of earth”, e eles são os irmãos Russo. Infelizmente, essa dupla, a nível dos artesãos que passaram pelas “garras” desta megalómana casa, são de facto os mais despersonalizados e desinteressantes. Resultado, operar todo um filme na concordância dos seus apetites tecnológicos (relembrando que James Gunn conseguiu lidar com o frenesim visual através da trabalhada química dos seus atores).

Infinity War é aquilo que se esperava nos cantos interestelares do estúdio, um longo (sublinho, longo) episódio a servir de coletânea ao ainda tão fresco legado do grande ecrã. Pensando nos Russos e toda a equipa por detrás do projeto como os “verdadeiros super-heróis”, encaramos a seguinte missão: como colocar em duas horas e meia toda a “bonecada” deixada pelos 18 filmes anteriores, narrar uma intriga formulaica e ainda desenvolver o vilão que andou 10 anos sentado numa cadeira sem qualquer preocupação nessa composição?

Não é impossível, é sim extremamente inconsequente juntar tudo no mesmo fosso. Em suma, um filme em constante resistência com as suas afinidades mercantis, informação intensa e exaustiva que dilui ao nada. Sim, existe muito a acontecer, há um climax suspenso ao longo de duas horas como se fosse o director’s cut de um terceiro ato (malditos terceiros atos) da aristotélica distorção em Hollywood. Todos os diálogos, ora afrontam-se na emergência (temos que salvar o Mundo, temos que recuperar as pedras, temos que destruir a luva … temos … temos), ora deixam-se levar em falsas elipses para injetar no espectador as habituais graçolas marvelescas (poderemos incluir isso como uma nova definição de humor?).

Aliás, querendo resumir Infinity War numa palavra, esta seria fórmula. É simples e concretamente uma fórmula aplicada, porém, tal já se sabia em antemão. O que não se previa era que a Marvel, consumida pela sua grande ambição, revelasse um Universo Partilhado insustentável (e atenção, apesar de tudo é o estúdio que conseguido aplicar bem-sucessivamente tal plataforma numa saga). É uma boleia pela Galáxia, personagens a interagirem com as outras e easter eggs minados, elementos que encaixam uma nas outras como peças de um puzzle cuja concretização ilustrada encontra-se no anterior modelo a seguir.

Thanos, o novo Hitler alienígena, é acorrentado a um extremo síntese de caracter, confundindo isso com complexidade. Todavia, este Infinity War difere dos outros capítulos por centralizar na sua força antagónica, ao invés nos heroicos vingadores, o resultado dessa mudança de olhar poderá fascinar os fãs que tem nos últimos tempos desiludidos nesse ramo. Mas a tragédia invocada nesta personificação digital de Josh Brolin é puro engodo (para além do “boneco”, em conjunto com o congénere de Justice League, são medonhamente artificiais), um arrasto, ou antes, uma desculpa para as inúmeras batalhas “apocalípticas” que pontuam em todo o seu esplendor nesta narrativa saturada. Porém, a tragédia acaba por ser outra, e nesse termo há que dar uma vénia ao trabalho de composição que Chris Hemsworth tem atribuído ao seu personagem Thor, cada vez sob cadências mais negras.

Mas se este episódio tem as aspirações, ao seu modo, da perfeita Tragédia Grega, é certo que no cair do pano apercebemos que já vimos este filme sob iguais conjunturas. Aliás, George Lucas havia feito em 2005, Revenge of the Sith, a queda de um império, de uma ideologia, de um modo, revelando o ascensão do Lado Negro e a humilhante derrota da Força (“O mal triunfa quando os homens de bem nada fazem para o impedir”, Edmund Burke). Contudo, o resultado está longe da epopeia, e os sinais demonstrados são de cansaço, o mero e pesaroso cansaço.