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«Nome di Donna» por Hugo Gomes

Nome di Donna poderá ser um filme empoleirado nas mais recentes polémicas e escândalos, não fosse o facto de o realizador Marco Tullio Giordana ter confessado a nós [C7nema.net] que a sua ideia surgiu muito antes das revelações bombásticas pelos lados de Hollywood. Nesse sentido, a nova obra do realizador do épico coming of age O Melhor da Juventude (vencedor do prémio Certain Regard da edição de 2003 do Festival de Cannes), funciona como uma espécie de preludio ao movimento #metoo e aos debates constantes em torno do assédio sexual.

É um retrato dos círculos de poder que motivam essa manifestação nefasta. Contudo, é aí que se perde, Nome di Donna por mais intencionado que seja, pouco consegue resolver na sua ida ao território do cinema-panfletário, estatuto que parece condenar as personagens e situações a um modo unidimensional e sobretudo transformá-los em modelos coletivos. Provavelmente, rico nas discussões pós-visionamento, alicerçado num timing preciso, o filme é escasso na ostentação de uma linguagem devidamente cinematográfica, carecendo ainda de enfases dramáticas (tal prova é aplicada num desfecho “happy end” forçado e demasiado ingénuo para a sua própria natureza).

A direção de Giordana é evocada numa automatização, por entre travellings sem eixo nem deixa, por entre diálogos previsíveis e sem provas de realismo e, por fim, subenredos que nada adiantam nem provocam o devido dinamismo na narrativa (o medo dos imigrantes, a filha do “predador” que surge como alavanca para as próprias resoluções, ou a repórter que é utilizada como cliffhanger moral).

Sim, não bastam boas intenções. As sugestões em temas sensíveis não transformam um filme automaticamente em algo incisivo. Há que torná-lo nisso através do uso de outras ferramentas e não na propositada consciencialização de mentalidades. O final era propicio a esse punch amoral e questionável: até quando a nossa protagonista seria uma vitima do assédio? E a que ponto esse estatuto prolongaria? Exemplos de questões que poderiam suscitar um filme corrosivo e não somente inserido numa causa.

Hugo Gomes