Terça-feira, 19 Março

«The Strangers: Prey at Night» (The Strangers – Predadores da Noite) por José Pedro Lopes

Foi com alguma surpresa que constatei que dez anos depois, um dos melhores slashers do novo milénio ia ter uma sequela. A verdade é que The Strangers é um filme de terror adequado para a nova geração: o suspense é visual e tenso (mas não explosivo) e os vilões são silenciosos, referênciais e bastante meta. A revelação final, de três jovens aborrecidos que só se querem divertir, fecha o filme de 2008 de forma brilhante. Afinal, se nos anos 80 os “slashers” eram tolinhos (como Freddy e Jason), e nos 90 super faladores e argumentativos (Scream – Gritos), faz todo o sentido que os slasher do novo milénio sejam só uma juventude aborrecida à procura de alguma diversão mas sem grande coisa para dizer.

No entanto, nos dez anos volvidos, a realidade é que The Strangers não chama por uma sequela e a verdade é que Predadores da Noite não nos traz nada de novo, e consegue ser consideravelmente menos mordaz que o original. Na verdade, esta sequela não arrisca um milímetro a inventar explicações ou variações do que vimos no original – temos de lidar com uma nova família no meio de nenhures, a fugir de três mascarados silenciosos.

A primeira metade consegue ser atmosférica e até inquietante como o original. A rapariga que bate à porta a chamar por alguém, a caravana com os corpos escondidos, as figuras que os seguem na noite. Mas depressa Strangers 2 tem de abrir o jogo – afinal são quatro pessoas a fugir de três no meio do monte. E a partir daí temos uma sucessão de corridas, mortes, não mortes, mais corridas, durante uma hora.

Se Johannes Roberts até tenta puxar para si um “look oitentista” cheio de zoom ins e música eletrónica errática – um pouco a colar-se ao fenómeno Stranger Things – essa vontade não eleva o filme acima de uma rotina entediante. Não auxilia também a família de vítimas – quatro personagens com uma “backstory” que nunca é relevante para a aventura, e que ficam entregues à mera função de carne para canhão.

Uma pena, especialmente se considerarmos que a saga Purge, que apresenta uma reinvenção politizada e atual do género slasher, ao fim de três filmes continua a – para melhor ou pior – arriscar em avançar com a história.


José Pedro Lopes

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