Sábado, 20 Abril

«Jalouse» (Ciúme) por Jorge Pereira

Karin Viard parece ser – atualmente – a cinquentona preferida do cinema francês para apresentar os dilemas da sua geração, esteja ela prestes a chegar a essa idade com uma gravidez tardia (Le Locataire), ou a lidar com as transformações hormonais da menopausa, como neste Jalouse, tragicomédia onde a atriz é movida pelo ciúme.

Se olharmos bem, observamos que nesta obra ela embirra e tem ciúmes de todos, sejam eles a nova professora da escola onde leciona, a sua jovem filha com a ambição em ser bailarina, a nova companheira do ex-marido, ou até a sua melhor amiga e um potencial novo namorado. Ninguém é poupado neste trabalho que, apesar de ser entregue numa forma de pequenos sketchs que se colam, apresenta uma boa ligação entre eles, uma continuidade e progressão na história e personagens.

Viard é uma boa atriz, especialmente no seu trabalho de expressão corporal, e preenche a sua Nathalie com todo humanismo e neuroses dignas de uma mulher à beira de um ataque de nervos, isto através de uma personagem que não é muito comum ver no cinema comercial (que prefere sempre as adolescentes, trintonas e quarentonas para as suas comédias e dramas).

Assinado pela dupla David e Stéphane Foenkinos, os mesmos cineastas de A Delicadeza, Jalouse peca pela sua indefinição no tom, um pouco como o estado hormonal da personagem central, mas ainda assim consegue bons momentos entre a comédia e o drama, sendo particularmente bem servido de secundários que não estão lá simplesmente para fazer brilhar a sua estrela (como o recém estreado Escolhe TU!).

Uma nota ainda para a contenção dos cineastas em transformar isto tudo em mais um crowd pleaser rotineiro, daqueles que ultimamente o cinema francês tem oferecido quando quer chegar a muitas salas, e para ambiguidade de uma mulher a contar uma história de mulheres, mas que pode perfeitamente encontrar paralelismos em muitos homens da sua idade.


Jorge Pereira

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