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«Annihilation» (Aniquilação) por André Gonçalves

É futuro ou é um presente alternativo? O tempo em si pregará partidas às aventureiras de Annihilation de Alex Garland (Ex Machina [1]) – mas o espaço constituirá o maior mistério; nomeadamente, o que está para além da nébula colorida ensaboada, da qual só um soldado voltou, em perigo de vida. Após umas quantas expedições falhadas, chega então a vez de uma equipa totalmente feminina liderada pela psicóloga Dra. Ventress (Jennifer Jason Leigh) tentar perceber porque mais ninguém voltou… nessa equipa está a biológa Lena (Natalie Portman), precisamente a esposa do único sobrevivente. 

Como seria de esperar, Garland dá-nos outra ficção científica que queima em lume brando, e que aqui e ali, adquire contornos de terror puro. Dito isto, nem as expectativas alinhadas com o género em si e elevadas graças ao êxito do anterior Ex Machina podem preparar o que pode ser descrito, assim em formato resumido e fácil de partilhar pelas redes sociais, como uma trip de ácidos em versão cinematográfica, a começar precisamente pela maneira como a tal nébula é retratada, e pegando a partir daí para se filosofar sobre identidade, ciência, religião e humanidade no geral.

Garland vai assim colidindo partículas, que lembram desde o body horror clássico de Cronenberg até às meditações de Tarkovsky, passando obviamente pelo mais recente Arrival [2] (na banda sonora onde colabora o Sr. Geoff “Portishead” Barrow, e na maneira como é introduzida a expedição à heroína especialista), para formar nova vida, para alterar o ADN do habitat em redor, e claro, de quem calhou tropeçar numa recomendação de uma plataforma de streaming. Convém endereçar o elefante grande mutante na sala: fosse o filme apenas uma coleção superficial de visuais janados, e mesmo assim, permaneceria a frustração não se dar a oportunidade do espectador poder testemunhar esta viagem sensorial no ecrã maior de uma sala escura. Sendo assim, arranje-se o ecrã maior possível, e toca a carregar o botão de play na Netflix

Tal como uma substância alucinogénica da escolha, se o espectador quiser, se estiver céptico, ou se quiser mostrar como tal, pode começar a querer garantir a si mesmo que é tudo fachada, começar a pegar em pequenos buracos de argumento, começar a questionar os caminhos da protagonista e respetiva equipa, para evitar ele próprio cair na toca, e começar a questionar a sua própria sanidade. Perfeição cinematográfica? Difícil dizer de um filme que parece ainda estar a crescer, em mutação, para alguém no futuro. Seguro será dizer que quem entrar nesta aventura não sairá igual ao momento que entrou, duas horas (em tempo “convencional”) antes.