É futuro ou é um presente alternativo? O tempo em si pregará partidas às aventureiras de Annihilation de Alex Garland (Ex Machina) – mas o espaço constituirá o maior mistério; nomeadamente, o que está para além da nébula colorida ensaboada, da qual só um soldado voltou, em perigo de vida. Após umas quantas expedições falhadas, chega então a vez de uma equipa totalmente feminina liderada pela psicóloga Dra. Ventress (Jennifer Jason Leigh) tentar perceber porque mais ninguém voltou… nessa equipa está a biológa Lena (Natalie Portman), precisamente a esposa do único sobrevivente. 

Como seria de esperar, Garland dá-nos outra ficção científica que queima em lume brando, e que aqui e ali, adquire contornos de terror puro. Dito isto, nem as expectativas alinhadas com o género em si e elevadas graças ao êxito do anterior Ex Machina podem preparar o que pode ser descrito, assim em formato resumido e fácil de partilhar pelas redes sociais, como uma trip de ácidos em versão cinematográfica, a começar precisamente pela maneira como a tal nébula é retratada, e pegando a partir daí para se filosofar sobre identidade, ciência, religião e humanidade no geral.

Garland vai assim colidindo partículas, que lembram desde o body horror clássico de Cronenberg até às meditações de Tarkovsky, passando obviamente pelo mais recente Arrival (na banda sonora onde colabora o Sr. Geoff “Portishead” Barrow, e na maneira como é introduzida a expedição à heroína especialista), para formar nova vida, para alterar o ADN do habitat em redor, e claro, de quem calhou tropeçar numa recomendação de uma plataforma de streaming. Convém endereçar o elefante grande mutante na sala: fosse o filme apenas uma coleção superficial de visuais janados, e mesmo assim, permaneceria a frustração não se dar a oportunidade do espectador poder testemunhar esta viagem sensorial no ecrã maior de uma sala escura. Sendo assim, arranje-se o ecrã maior possível, e toca a carregar o botão de play na Netflix

Tal como uma substância alucinogénica da escolha, se o espectador quiser, se estiver céptico, ou se quiser mostrar como tal, pode começar a querer garantir a si mesmo que é tudo fachada, começar a pegar em pequenos buracos de argumento, começar a questionar os caminhos da protagonista e respetiva equipa, para evitar ele próprio cair na toca, e começar a questionar a sua própria sanidade. Perfeição cinematográfica? Difícil dizer de um filme que parece ainda estar a crescer, em mutação, para alguém no futuro. Seguro será dizer que quem entrar nesta aventura não sairá igual ao momento que entrou, duas horas (em tempo “convencional”) antes.  

Pontuação Geral
André Gonçalves
Jorge Pereira
annihilation-aniquilacao-por-andre-goncalves Garland dá-nos outra ficção científica que queima em lume brando, e que aqui e ali, adquire contornos de terror puro