Terça-feira, 19 Março

«The Outsider» (O Forasteiro) por Jorge Pereira

A inércia total de um enredo em sair dos lugares comuns e uma direção remetida a criar sequências atrás de sequências demasiado “clean” conduzidas pela soturnidade de personagens cliché são a maior desilusão deste The Outsider (O Forasteiro), um projeto preguiçoso em todo o seu esplendor que chegou a ter Takashi Miike e Tom Hardy ligados à direção e protagonismo num ponto anterior da produção.

Nesta história de um americano (Nick, Jared Leto) que no pós-guerra com o Japão salva um membro da Yakuza na cadeia e mais tarde se junta à família dele, parece um manual de bolso sobre criminalidade e cultura japonesa, tudo tratado como um daqueles artigos mínimos feitos para o clickbait com um top 5 de detalhes culturais do país do sol nascente para Gaijin ver. E aqui não faltam sequências de Sumo, imagens de Teatro Kabuki, rituais de entrada nas famílias mafiosas, tatuagens e outras palermices estereotipadas e redutoras que fomentam o exotismo gringo do oriente – não faltando até uma bela mulher, irmã do mafioso, que se vai enamorar pelo nosso anti-herói e ser objeto central das grandes traições e reviravoltas da história. 

Na verdade, parece que estamos a assistir a uma espécie de remake de O Último Samurai em modo Yakuza. Se emocionalmente, e em termos de Cinema, o filme de Edward Zwick até conseguia aliar – de certa maneira – a sua chama emotiva com um trabalho técnico e cénico bem conseguido, este filme de Martin Zandvliet (Land of Mine) é um enorme seppuku cinematográfico e um produto de 2ª linha que encaixa bem no mercado do Home Video (Netflix). A sua estética, entre o minimalismo, o naturalismo e o estilizado pop com uma palete de cores em modo neon, nunca mostra grande vontade em sujar verdadeiramente as mãos e até as cenas com gore são demasiado limpas e cirurgicas.

Para piorar, há que frisar que todas as personagens em cena são pouco trabalhadas, com Jared Leto a ser convencido (e a convencer-se) que basta andar por ali com o seu ar aprumado (cabelo sempre impecável, mesmo na prisão) e silencioso para ser automaticamente uma personagem marcante à procura de uma nova vida. Não, não chega ao ator comportar-se como o “Samurai” de Melville, o velhinho Zatoichi ou o mais recente Nathan (de O Último Samurai), principalmente porque nada à sua volta o envolve numa aura de unicidade.

Veja-se ainda o desleixo quando se traz para cena uma personagem do passado de Nick, um colega dos tempos da tropa (Emile Hirsch). A cena, que parece arrancada de American Psycho (o facto de Leto estar em cena ajuda a relembrar o filme de Mary Harron), acaba por ser tão previsível e inconsequente como tudo o resto.

No final, temos ainda um desenlace daqueles em que os ocidentais são a única réstia de esperança para salvar as tradições e honras dos nativos. Uma treta, perfeita para fãs de O Último Samurai e Danças com Lobos, que não só não traz nada de novo como se mostra extremamente redutor.


Jorge Pereira

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