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«12 Indomáveis» (12 Strong) por André Gonçalves

Como questionar a política numa história de heroísmo baseada em factos reais? É sempre esse o dilema que muitos filmes norte-americanos, centrados em servir de cobertor cultural, mas também em servir por trás uma agenda política, colocam. Pois não terei problemas em dizer que 12 Strong é propaganda descarada ao serviço militar (e não só) norte-americano, e, neste caso concreto, ao seu imperialismo disfarçado de ação humanitária.

Tomando como desculpa a ação (real, sim) de resposta imediata ao ataque das torres gémeas de 11 de setembro de 2011 por uma força especial composta por – adivinharam – 12 homens, o descaramento aqui não é propriamente da variedade “Eastwoodiana”. Por outras palavras, ao invés do radicalismo puro que Eastwood chegou a atingir na altura da definição moral de “bons” e “maus” e de se levar muito a sério – nomeadamente em American Sniper – o que o realizador anónimo Nicolai Fuglsig propõe em conjunto com a dupla de argumentistas, que inclui Ted Tally (“só” responsável por Silence of the Lambs), parece meritório por si: acrescentar uma boa dose de humor e mostrar ao americano comum que o Afeganistão, esse “cemitério de impérios”, não são só talibãs.

Peguemos no aligeiramento da ação: se é certo que o humor vai funcionando e o filme adota aqui e ali tiradas até pós-modernas em relação ao espectador, não deixa de ser uma tarefa contraproducente estarmos perante uma típica produção Jerry Bruckheimer, com explosões acima de qualquer humor e construção tridimensional de personagens para além de arquetipos “macho” (explosões vazias, filmadas da forma mais serviçal, o que ironicamente não deixa de adicionar um nível de verdade artística involuntário), justificadas historicamente, e no final pedir que nos alinhemos emocionalmente com estas personagens. Não só isso, como este humor, por vezes forçado ao ponto de sentirmos que estamos a ver um filme dos ZAZ (Aeroplano et al) versão guerra do Afeganistão (exemplo maior: aquela troca de comunicação entre o aliado e o vilão afegão), esconde bem o tal descaramento político. E sim, os atores são espantosamente de classe A perante a ordem simples que têm para cumprir aqui. 

São filmes como este que fazem questionar e temer (!) a audiência “real” para eles: serão meros pipoqueiros, levados pelo logotipo do relâmpago na promessa de ver escapismo? Mas que escapismo oferece um filme de guerra, focado sim, na história de sobrevivência de 12 norte-americanos comuns em prol de qualquer outra vida desperdiçada no campo de batalha? Porque conforme nos diz o próprio filme, num momento sem máscaras, se um destes 12 morresse, teríamos problemas. Um escapismo elitista? Ao longo de mais de duas horas, somos levados a pensar que, pelo menos, estamos a acompanhar uma visão mais liberal que outras que testemunhámos no passado. Mas não nos enganemos: a propaganda (chamemos-lhe propaganda, para sermos simpáticos e bem-educados) é a mesma.

Cinematograficamente serviçal quando não brinca com slow motion (aí é de um amadorismo confrangedor) e politicamente questionável, 12 Strong representa os piores traços de uma nação com muito luto por fazer… 

 


André Gonçalves