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O Caso de Sarah e Saleem: o condicionamento do amor

Os casos extra-conjugais são moralmente condenáveis, quer seja nas sociedades judaico-cristãs, quer nas muçulmanas. Quando adicionamos o facto de estarmos a falar de um homem da Palestina e uma mulher de Israel, o caso ganha ainda uma maior histeria social, uma consequência de um conflito que dura há mais de meio século.

Saleem é palestiniano, casado, à espera do primeiro filho, e trabalhador de uma panificadora na distribuição. Sarah é israelita, casada com um coronel do exército, e passa os seus dias a trabalhar no seu próprio café com a irmã e a cuidar da filha. Os dois vão-se envolver sexualmente e serão arrastados para inúmeros problemas e consequências provocadas, não só pelo caso entre ambos,mas pelo próprio conflito entre os dois territórios.

Baseado numa história verdadeira, The Reports on Sarah and Saleem é uma nova incursão do cineasta palestino Muayad Alayan para as relações entre os dois “estados” e a forma como a vigilância, a pressão, o controle social, e a situação politica condiciona os indivíduos no seu dia a dia.

Ele já tinha feito isso em várias curtas, bem como em Love, Theft and Other Entanglements (2015), filme que passou pelo Festival de Berlim que – tal como este – demonstra que é impossível viver na região sem sofrer consequências diretas e indiretas da guerra que a atinge. Neste caso, vemos a forma como um irrelevante  “affair” se transforma em mais um bloco divisor entre as duas partes e um caso nacional.

Fugindo à apresentação dos eventos de forma cronológica, preferindo antes uma narrativa elíptica que se vai desvendando aos poucos criando um suspense absorvente, este não é um filme de julgamentos morais, mas acima de tudo de demonstração dos condicionamentos que os cidadãos de ambos os lados da barricada sofrem, quer dentro das estruturas internas (familia), quer externas (sociedades). E Muayad faz isso sem cair no panfleto político, respeitando a história e as personagens reais de que está a falar, sem dar uma declarada opinião sobre tudo, deixando essa tarefa para o espectador.

Uma nota para a força que os dois atores principais dão às suas personagens e a um grupo de secundários que os acompanha nesta viagem de condenação social. Este é um filme onde argumento e atores são o que se destaca e em que o Cinema e as suas imagens, sem brilhar, flui ao serviço deles, nunca caindo no pastelão telenovelesco, tão propício a estes ensaios movidos pelas traições.

(crítica originalmente escrita em fevereiro de 2018)