Terça-feira, 19 Março

«Bad Investigate» por Jorge Pereira

Seis anos depois do último Balas e Bolinhos, Luis Ismael está de volta com Bad Investigate, uma espécie de “Buddy Cop Film” à portuguesa sobre dois “vigilantes” pressionados por um subcomissário (e aqui o Sub tem muita importância) a encontrarem um perigoso traficante conhecido como El Dedo.

Para isso, os dois – entre amuos, conversas de todo o género e desenrascanços constantes – vão ter de enganar familiares, um agente do FBI, escapar das garras do Canhão (um investigador da PJ muito matreiro), e fazer a detenção.

Há 14 anos atrás, numa entrevista que fiz a Luis Ismael, o realizador frisava que fazia filmes “para as pessoas, para o público”, voltando a realçar o mesmo na antestreia, definindo o seu cinema como comercial, mesmo que hoje em dia no nosso país, comercial seja quase visto como “pornografia”. O que também se sentia em “Balas” era uma paixão, um amor pela produção, pelo filmar, e colocar um humor à nortenha na grande tela, sem qualquer tipo de tabus.

Isso volta a acontecer parcialmente neste Bad Investigate, uma comédia também ela despreocupada, muitas vezes até nonsense, mas que a certo ponto (quando viaja para a Galiza) tenta ser mais séria, pelo menos até voltarem os nossos dois anti-heróis a cena e nos lembrarem que nada pode ser levado muito a peito. Afinal, Adolfo Luxúria Canibal é o nosso narrador…

Criando personagens novamente carismáticas (especialmente Romeu, que podia ter um spinoff na TV com grande potencial), colocando referências cinematográficas aqui e ali, e oferecendo ao espectador verdadeiras pérolas em alguns diálogos protagonizados por muitos dos atores que já participaram na saga anterior, Bad peca pelos excessos, pela falta de contenção do argumento, que por vezes estende as piadas demasiado, e por demasiadas vezes não conseguir colar o conjunto de sketches apresentado, resultando assim num filme desritmado, entre os altos e os baixos, embora os primeiros suplantem os segundos.

A isto acrescem ainda alguns momentos que refletem as limitações de todo o projeto, quer em termos visuais, quer sonoros, no design de produção e até na montagem e fotografia, embora aqui se veja uma evolução e um cuidado em relação aos trabalhos anteriores do cineasta e estejam uns níveis acima de muitos dos remakes de filmes portugueses que chegam aos cinemas com o selo de produção cinematográfica (quando são apenas produtos televisivos exibidos num grande ecrã).

Outro ponto negativo é alguma discrepância, ainda que menos cerrada, na qualidade de interpretação dos atores nacionais, quando comparada com os internacionais, com Enrique Arce a roubar todas as cenas em que entra e Robson Nunes a trazer um pouco de Carandiru ao pedaço.

Por mais, e regressando à velha questão  (já referida acima) que ultimamente é tema em torno do cinema comercial em Portugal, o de transplantar a linguagem televisiva para o grande ecrã, Bad Investigate não está imune a isso, mas nota-se que com os meios certos e algum polimento em todos os cantos, podiamos estar presentes num fenómeno como Torrente em Espanha. Ou então numa potencial série de culto na TV, pois os tempos de Zé Gato e Duarte e Companhia já vão longe.

 


Jorge Pereira

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