Sábado, 20 Abril

«47 Meters Down» (47 Metros de Terror) por Jorge Pereira

«Cage goes in the water, you go in the water. Shark’s in the water. Our shark…. Farewell and adieu to you, fair Spanish ladies. Farewell and adieu, you ladies of Spain. For we’ve received orders for to sail back to Boston. And so nevermore shall we see you again.»

Assim dizia e cantarolava Quint (Robert Shaw), o arrogante pescador de Jaws (O Tubarão) de Steven Spielberg, já lá vão 42 anos. Se as irmãs Lisa (Mandy Moore) e Kate (Claire Holt), protagonistas do thriller de sobrevivência 47 Metros de Terror, tivessem prestado atenção a estas palavras, provavelmente nunca teriam descido numa jaula de mergulho ao largo do México para verem tubarões com os dois “engates” que conheceram no dia anterior. Mas fizeram-no (e por isso mesmo, temos filme). Claro que as coisas correm mal e o cabo que segura a “gaiola” aquática parte-se, aterrando as duas no fundo do mar, a 47 metros de profundidade.

Aqui o duo está sujeito a eventuais ataques dos tubarões, ou então a morrer por falta de oxigénio (com alucinações pelo meio), ou ainda, se ascenderem muito depressa dentro de água, sofrer a doença de descompressão. Enfim, problemas não faltam, por isso estranha-se como o guião escrito por Johannes Roberts e Ernest Riera consegue ser tão desajeitado e limitado.

Na verdade, esta entrega de um filme onde presas e predadores têm de lutar pela sobrevivência vem seguindo a estratégia minimalista dos últimos projetos cinematográficos ligados a tubarões e outros medos aquáticos (talvez Meg saia desse sistema). Mas se The Shallows (Águas Perigosas), um exemplo recente, sabia usar bem a sua protagonista (Blake Lively) para através de uma história minúscula servir um trabalho repleto de tensão (sempre bem filmado pela lente de Jaume Collet-Serra), já 47 Metros de Terror revela-se apenas um daqueles projetos monótonos de constante déjà vu.

Compreenda-se que para além da anorexia da história, as protagonistas são pouco empáticas e resumem-se a partir de certo ponto a ataques de pânico e gritos. Isso não ajuda nada o espectador a criar uma ligação a elas, até porque os primeiros momentos do filme, ainda em terra, mostram apenas banalidades nas suas vidas e personalidades, como qualquer Scream Queen de um filme de terror. Já os atores secundários, esses, são meros bonecos sem qualquer dimensão ou relevância (um desperdício de Matthew Modine), e a pouco engenhosa ação submarina – que chega a ser repetitiva – fica longe de transmitir ao espectador uma verdadeira sensação de medo e/ou claustrofobia, mesmo que o realizador abuse dos close-ups, das gritarias e dos típicos jump scares movidos pelo aumento do volume em momentos chave.

A isto acresce ainda uma montagem que em diversos momentos confunde mais que ajuda e uma banda-sonora tão pouco memorável como tudo o resto, representando os melhores momentos os mais silenciosos. Isso e o final, ainda que fique um trago agridoce que nos recorda uma outra descida, mas em terra (perguntem ao Neil Marshall).


Jorge Pereira

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