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«Mark Felt: The Man Who Brought Down the White House» por Jorge Pereira

Em 1976 chegava aos cinemas Os Homens do Presidente, filme que colocava Robert Redford e Dustin Hoffman a contar a história dos repórteres do The Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, e como eles descobrem os detalhes do escândalo Watergate que levam à renúncia do presidente Richard Nixon.

Do outro lado desta história estava Mark Felt, o «Garganta Funda» (Deep Throat), alto responsável do FBI que se transformou em delator quando a Casa Branca começou a pressionar a agência “para levar a água ao seu moinho”.

Alan J. Pakula, tal como Sidney Lumet, eram cineastas que sabiam bem os códigos da intriga política, incutindo nos seus thrillers um tom cerebral e labiríntico que nunca explodia em grandes folclores, mas que ia mantendo o espectador atento e a fervilhar pelo desenrolar dos eventos.

Mark Felt: The Man Who Brought Down the White House, para além de ser demasiado inconsequente na sua rigidez formal e muitas vezes académica, tem ainda o problema de o realizador Peter Landesman nunca ter realmente a pujança e o jeito para elevar o material e as personagens para além de figuras heróicas contracorrente que evocam os tempos que correm. Talvez sejam os recentes fenómenos como Snowden e presidentes investigados por alegada manipulação das eleições (Trump e o caso Rússia) que tenham despertado o estúdio a avançar com esta obra, mas a verdade é que este ano os escândalos presidenciais voltaram a ser moda (The Post, é outro exemplo), com Hollywood ao seu jeito capitalista a vender arte.

O resultado por aqui é uma desilusão. Como thriller político, o fime é demasiado tépido, e naquilo que até podia fazer a diferença – na incursão pela complexa vida familiar de Felt – o cineasta mostra-se tímido, embora seja de conhecimento público que os produtores o obrigaram a cortar largos minutos ao filme e que a nova versão dá muito menos preponderância à esposa do “Garganta Funda” – no filme interpretado de forma bem conseguida por Diane Lane.

É nos atores, sim, que reside o melhor, embora Liam Neeson esteja demasiado agarrado aos limites do que o guião lhe entrega. Tudo o resto, talvez por arrastão, cai na mais perfeita banalidade, desde a montagem à banda-sonora, como se a forma para vender algo assim fora do registo blockbuster fosse uma fórmula sem margem de erro. Puro engano dos produtores.

E num oceano de obras similares nos tempos modernos e pensando em outras do passado, como o já referido filme de Pakula, Mark Felt revela-se um daqueles fiascos onde uma montanha pariu um rato e uma obra com grande potencial no cinema que podia perfeitamente há décadas atrás fazer carreira exclusivamente no Home Video.


Jorge Pereira