Sexta-feira, 29 Março

«Battle of the Sexes» por Aníbal Santiago

O título de Battle of the Sexes remete para a célebre partida de ténis que colocou frente a frente Billie Jean King (Emma Stone) e “Bobby” Riggs (Steve Carell). Na época, mais precisamente em 1973, Billie tinha vinte e nove anos, chegou a alcançar o estatuto de número um e era uma das expoentes da luta pelos direitos das mulheres. Bobby tinha cinquenta e cinco anos, um passado de respeito no ténis e uma atitude chauvinista que contribuiu para incendiar o circo mediático que envolveu o duelo. Realizado por Jonathan Dayton e Valerie Faris, “Battle of the Sexes” permite que Emma Stone e Steve Carell explanem alguns dos seus talentos, enquanto acompanha de forma ficcional diversos acontecimentos que antecederam este evento que cedo se transformou numa “guerra dos sexos”, sejam estes relacionados com a vida profissional ou pessoal da dupla de protagonistas.

Stone é o destaque óbvio, com a atriz a imprimir personalidade à sua personagem. Veja-se quando encontramos Billie a lutar por um salário semelhante aos homens para si e para as suas colegas, ou em pleno combate verbal com Riggs. A intérprete convence ainda no que diz respeito à faceta mais delicada de Billie, sobretudo quando a tenista, casada com Larry King (Austin Stowell), apaixona-se por Marilyn Barnett (Andrea Riseborough), a sua cabeleireira. O affair é mantido em segredo e desperta alguns receios na protagonista, enquanto permite a “Battle of the Sexes” abordar, ainda que de forma ligeira, o conservadorismo da sociedade da época. Se Billie luta pelos direitos das mulheres, já Riggs aparece como um expoente nocivo do machismo, embora Carell exponha que este personagem é relativamente mais complexo do que a sua “capa” caricatural deixa transparecer.

O tenista profere falas condenáveis e comete atos caricatos, mas não deixa de conter no seu interior uma faceta intrincada, própria de alguém que procura manter a relevância a todo o custo, com o argumento a aflorar, ainda que brevemente, alguns elementos da vida pessoal deste personagem, tais como o vício pelo jogo e o ocaso da união matrimonial. O argumento expõe estes assuntos de forma demasiado superficial, um pouco como acontece com o casamento de Billie ou no que diz respeito a diversos personagens secundários. Diga-se que Battle of the Sexes a espaços assume uma faceta de “filme-powerpoint”, com diversos acontecimentos a serem expostos e mencionados, embora poucos sejam desenvolvidos ou ganhem real importância: o embate entre Margaret Court e Billie surge como uma nota de rodapé para explanar um período mais instável da segunda, enquanto o desafio entre a primeira e Bobby aparece como uma alavanca para a protagonista aceitar participar no episódio do título.

São dois episódios que colocam em evidência as fragilidades do argumento e alguma da sua dificuldade em balancear os elementos que envolvem a vida privada e profissional dos protagonistas, com essas debilidades a terem como ponto alto a forma pouco subtil como uma mensagem relevante é inserida numa fase adiantada do enredo. Embora o argumento nunca abandone a mediania, alguns elementos do elenco conseguem sobressair, sejam os mencionados Carell e Stone, ou Sarah Silverman como a vivaz Gladys, ou Andrea Riseborough como uma cabeleireira que mexe com os sentimentos da protagonista. Essa ligação é exacerbada através de uma série de planos que unem Billie e Marilyn, com o affair entre ambas a ser marcado pelo receio que a primeira tem de ser descoberta e a permitir incutir alguns elementos de romance ao filme. O humor também está presente ao longo do enredo. Note-se os momentos em que Bobby se expõe ao ridículo, enquanto dá ao seu público aquilo que este quer ver e ouvir, um pouco a fazer recordar Donald Trump e os seus seguidores.

Os paralelos entre Battle of the Sexes e a atualidade não se limitam a Trump, com temáticas como o sexismo e as desigualdades salariais a continuarem na ordem do dia, tal como o preconceito em relação às uniões entre pessoas do mesmo sexo. Esse diálogo com os nossos dias é um dos elementos mais interessantes do filme, tal como a emotiva banda sonora, a utilização expressiva da paleta de cores, a ridicularização do machismo, o cuidado guarda-roupa e o meritório trabalho de caracterização. Pelo meio temos ainda alguns trechos que envolvem os treinos dos atletas e as partidas de ténis, inclusive o duelo do título, com este a ser filmado de forma competente, mas longe de sair da mediania, um pouco à imagem de toda a obra.


Aníbal Santiago 

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