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«The Promise» (A Promessa) por Hugo Gomes

Colossal flop desculpado pelas suas boas intenções, o de desmascarar o negacionismo do genocídio arménio, praticado pelo Império Otomano no final da Primeira Grande Guerra. Assim poderemos caracterizar esta obra de grande folego que contou com alguns cenários filmados em Portugal. Foram 90 milhões de orçamento, onde apenas teve devolução de 10 milhões em rendimento. O estúdio não saiu preocupado. Segundo consta em comunicado, o filme serviu sobretudo para incentivar consciências e mostrar uma verdade ignorada, acima de qualquer valor monetário.

Terry George é um realizador dotado desse “cinema de consciências”, basta ver o seu Hotel Rwanda onde retratou um dos genocídios mais desprezados da nossa História. Contudo, nesse filme datado de 2004, o episódio ficou-se por isso mesmo, um episódio representativo daquela tragédia.

Dentro dessas limitações, George conseguiu trazer personagens construídas à imagem da dramatização dos factos, enquanto que em The Promise o enredo é levado a eito numa esquematização infernal. São vários anos abordados em duas horas de fita e muitos mais os objetivos humanistas a serem traçados.

Resultado? Um épico sensaborão com personagens de cartão, um trio amoroso disparado a pólvora seca, um vazio dramático que não é auxiliado com o esforço dos atores e toda uma tragédia sem espessura que só ostentam os valores de uma produção cara e vistosa. Sim, como diz o velho ditado, as boas intenções não pagam imposto. Neste caso não fazem um filme.

Apesar das imensas críticas e de um repùdio que se confunde com senso comum, a verdade é que todos os dramas “épicos” cobiçam ser um novo Titanic, aquele consolidar de “História morta” (a representação histórica) enquanto se afiambra com um romance com pés e cabeça para aludir a dimensão humana evocada na tragédia. Por sua vez, The Promise falha pela sua ambição e pelo fraco gosto em transgredir a própria capa de “historieta” do costume.

Em suma, como um luxuoso telefilme, eis uma desculpa para olhar para as atrocidades da nossa História, nesse sentido não somos uns “monstros” sem coração, mas no que aborda Cinema … ora bolas, que tragédia!


Hugo Gomes