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«Call Me By Your Name» (Chama-me pelo Teu Nome) por André Gonçalves

1983, algures no norte da Itália. São estas as coordenadas iniciais de Call Me By Your Name, adaptação de um romance homónimo de 2007 – um projeto que esteve em germinação desde praticamente esse tempo, quando o argumentista James Ivory (sim, o mesmo dos romances históricos da década de 80 e 90 que a malta ora adorava, ora adorava gozar) esteve até em tempos para realizar. Acabou por ceder o lugar a Luca Guadagnino, já com provas dadas no género melodramático (basta lembrar I Am Love). 

Call Me By Your Name é, resumindo ao máximo, uma história de amor entre um estudante e um jovem de 17 anos – filho do professor que alberga então esse estudante durante a temporada do verão. Um romance de verão, sim. Nada de novo em termos narrativos, tirando talvez o facto de termos dois homens no papel de amantes, mas é precisamente por essa universalidade que o filme prepara sorrateiramente para destruir corações. 

Ivory e Guadagnino compreendem as aparentes contradições da adolescência – e do amor! – e dão-nos uma “nova estrada” se construída em material do mais clássico possível, com The Psychadelic Furs e Sufjan Stevens (que teria uns 8 anos em 1983, mas isso agora não interessa nada) a temperar emoções. Perante a sua estrutura obviamente “clássica”, no ato de “atar e desatar” este romance homossexual, a obra é refrescantemente solta e moderna – fiel à década de contradições que narra. 

Sobre acusações do filme ter cortado a cena mais sexual entre os protagonistas (onde até uma cena paralela de sexo heterossexual é mais focada), o realizador, homossexual por sinal, defendeu-se [1] com o facto de se ter apercebido que a proximidade dos atores (Timothée Chalamet e Armie Hammer) e respetivos personagens (Elio e Oliver) seria o suficiente; que mostrar o amor sexual seria uma forma de intrusão. Nesse aspecto, é uma boa defesa: seria difícil ver outros atores, para além destes relativamente conhecidos, mas nunca melhores do que aqui, nestes papéis – sentimos iconografia a ser feita diante dos nossos olhos. 

E por falar em iconografia, felizmente para muitos (eu inclusive), mantém-se a já infame “cena do pêssego” (se bem que ainda assim, com uma ligeira diferença face ao livro): uma cena que fará tanto as delícias das perguntas e respostas do jet7, agora que o filme se prepara merecidamente para ganhar prémios, como a dos amantes do erotismo puro no cinema.  

Call me by your name, and I’ll call you by mine”, diz um amante para o outro no pico do êxtase que é a sensação de querermos urgentemente pertencer a outra pessoa. O filme captura praticamente na perfeição essa urgência, e a obra desenha também ela uma relação de verão com o espectador, que primeiro a pôe à prova (até face ao ano de expectativas que foi construíndo); depois, a momento incerto, se engaja; e finalmente fica num pranto assim que a câmara se foca no rosto de Elio/Chalamet para os créditos finais, e as luzes começam a acender.

André Gonçalves