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«Star Wars: The Last Jedi» por Jorge Pereira

Depois de um Despertar da Força que funcionava como uma reciclagem emocional da primeira trilogia de George Lucas e e em particular de Uma Nova Esperança – misturando novas personagens com as antigas e onde J.J. Abrams primava pelo toque nostálgico capaz de fazer os adultos sentirem-se novamente crianças -, este novo capítulo representa para a franquia o que Rogue One: Uma História de Star Wars já tinha deixado antever: mais do mesmo e um enorme bocejo mascarado de entertenimento high tech para fãs.

Claro que não faltam grandes cenários, belos efeitos visuais e sonoros, intermináveis lutas de sabres e de naves, dúvidas existenciais reutilizadas da eterna luta interior entre o bem e o mal, o código dos guerreiros e a honra, e alguém que terá de descobrir que é o tal (o “the one”, o jedi, o que quiserem chamar) que fará a balança de um dos lados pender.

No final das contas, o que sobressai é a previsibilidade de todos estes elementos, sendo notória a fraqueza dos vilões em cena, suspirando o espectador pelos tempos de Darth Vader. Snoke (Andy Serkis carregado de CGI), Kylo Ren (Adam Driver) e Hux (Domhnall Gleeson) são um esboço caricatural do “Mal” na Galáxia, tão pobres como facilmente enganados e manipulados, sem qualquer estratégia de guerra digna desse nome.

Aliás, este “Império” cada vez parece mais o Coiote a perseguir o Bip Bip (Papa-Léguas). Na verdade, os rebeldes estão sempre cercados, sem saída, à mercê de uma força ultra poderosa, mas no final lá arranjam uma qualquer entrada dos fundos, ou um reator com debilidades, ou qualquer outra solução de última hora colada a cuspo que rebaixa a força maligna a um «imperiozinho» que nem a marcha musical criada por John Williams merece.

Mas o que aborrece (e digo isto em sentido literal)  é que este Os Últimos Jedi parece estar convencido que basta existirem os chavões e reverências da saga para escapar ileso a críticas e provar ser um entretenimento razoável – metendo apenas novas personagens, robôs e animais fantásticos em cena para ter mais merchandise para vender e eventuais spinoffs a explorar (é provável que até 2030 exista um filme da saga todos os anos).

Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega) e Poe (Oscar Isaac), filhos do Despertar da Força, têm bastante tempo de antena e revelam-se essenciais para os eventos aqui relatados – tal como Leia e Luke Skywalker – mas os meandros pelos que circulam vão dar sempre no mesmo. Este Star Wars da Disney é reciclagem sobre reciclagem e ainda não apresentou absolutamente nada de novo, espetacular ou que expanda concretamente este Universo para além dos lugares ou emoções já vividos nos episódios anteriores.

Para piorar, ou acentuar estas fragilidades, não faltam os sacrifícios lamechas, diálogos infantis em catadupa, frases bonitas para românticos incuráveis, o didatismo repetitivo do explicar em cada novo episódio a “Força”, e truques modernos do politicamente correto. Veja-se Chewbacca a ser sensibilizado para o que come ou frases lamechas que poderiam perfeitamente estar numa obra de Nicholas Sparks, como a balela romântica e forçada em que uma personagem diz a outra que o Amor é que derrota o Mal e não o Ódio. Tudo bonito, muito bonito. Por isso arranjem uma coroa para a Miss Universo do cinema atual, Star Wars – Os Últimos Jedi.