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«England is Mine» (England is Mine – Descobrir Morrissey) por André Gonçalves

Um mar em remoinho. Um mar de infinitas possibilidades, para o futuro, e também para este olhar sobre o passado. É a primeira e última imagem marcante de England is Mine, um biopic da génesis de uma das maiores divas do universo pop: Morrissey.

Ao cobrir estes primeiros anos pré-The Smiths, o realizador Mark Gill demonstra pelo menos saber que no género biográfico, é preferível capturar momentos, (pre)disposições que narrar vida inteira baseada em factos verídicos, em que no final, após o epílogo obrigatório, teremos as fotos do ator-personagem e figura real, para o espectador analisar as poucas diferenças que possam (idealmente) existir. E aqui, deve-se acrescentar: Jack Lowden, no papel de protagonista, evita os artifícios fáceis da imitação, preferindo construir a personagem e não um poster. A obra parte também com um avanço considerável para o público casual do artista, ao qual estes anos formativos serão mais desconhecidos…

Dados estes tr(i)unfos relativos, há que dizer que o resultado final é tão conformista quanto Morrissey não o seria, assemelhando-se quanto muito ao conservadorismo perigoso do artista hoje, 40 anos após os acontecimentos. Em boa verdade, o que choca mais nesta obra é colocar-se a si mesma em xeque tão cedo: quando, logo no primeiro ato, replicando as palavras do jovem músico sobre odiar repetição por ser precisamente o oposto da criatividade, acabar por falhar em se diferenciar, tirando nos tais aspetos mais “cosméticos” descritos no parágrafo anterior (a ausência do “baseado em factos reais”, do pós-filme, das fotos). É um filme linear, igual ainda assim a tantos outros, sobre uma figura ímpar. E isso, claro, é a morte do artista. É uma pena, porque vemos aqui bastantes aspetos suficientemente positivos: é um filme que consegue evocar um espaço e tempo com relativa facilidade e os atores mostram-se interessados em fazer mais do que papéis-cartolina, mesmo quando os papéis nos parecem efetivamente pouco explorados. Felizmente, perante uma viagem de A a B tão evidente e tendencialmente chata com o tempo, o investimento neste tempo, tão precioso para ver outras criações mais autênticas e vibrantes, é menor que a média destas produções (90 minutos).  

André Gonçalves