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«Thor Ragnarok» por José Pedro Lopes

Creio que o que é mais frustrante no ‘marketing’ agressivo da Disney nos seus franchises é a revindicação. Os trailers de Thor Ragnarok tinham as suas personagens a dizerem que era tudo uma grande diversão. Todo o marketing do filme, do realizador aos atores, diziam como tudo ia ser uma pandega reminiscente de Flash Gordon e de Jack Burton nas Garras do Mandarim. Creio que inclusive a Disney deve ter uma equipa de social media a escreverem artigos para “copy paste” com títulos como “O Filme da Marvel mais divertido de sempre” ou memes sobre como o Thor 3 é uma espécie de What We do In the Shadows com tudo espetacular, incrível e hiper-adjetivado.

Infelizmente para nós – que lá gostamos desta “macacada” – Thor Ragnarok é mais do mesmo no Marvel Cinematic Universe, com a balança a descair para mais do que eu menos gosto, e para o menos do que eu acho que a saga precisa. O filme de Taika Waititi até começa bem e tem grande potencial para tentar algo diferente – o estilo da aventura especial é mais assumido que nos filmes anteriores, e Chris Hemsworth está no tom perfeito para a personagem.

No entanto repete-se o mesmo problema de, por exemplo, Guardians of the Galaxy Vol.2. As personagens secundárias amontoam-se mas nunca chegam a construir real interesse, e os protagonistas ficam, perante um filme com tantos “bonecos para vender”, presos a uma história muito reduzida. A aventura especial sem limites prometida cinge-se a um longo primeiro ato  (Thor preso e a tentar fugir) para um espetáculo de CGI final (luta com Hela), sem que efetivamente tenham tido o prazer de termos partido a uma aventura com as personagens.

Fica a ideia que a Valkyrie de Tessa Thompson merecia muito mais história e que nem à terceira o Heimdall de Idris Elba tem o tempo de ecrã que a personagem pede. Em vez disso, o filme arrasta-se em personagens tão lineares como o seu CGI, como o caso de Korg (interpretado pelo próprio Waititi) ou micro-narrativas batidas como a do capanga interpretado por Karl Urban. Isto para não dizer que Cate Blanchett pode estar magnífica mas, mais uma vez, esta vilã da Marvel toca sempre a mesma nota e não traz nenhuma complicação. A forma como é derrotada é, inclusive, constrangedora.

Uma nota negativa adicional para o Loki de Tom Hiddleston que deixou de ser das personagens mais “fixes” do universo cinematográfico Marvel para um pateta alegre, a roubar telecomandos e coisas assim.

Menos desorganizado que Guardians of the Galaxy vol.2 [1]e mais inspirado que Spiderman Homecoming [2], Thor Ragnarok é uma oportunidade perdida. Entre Thor, Hulk e Vakyrie havia ali uma grande aventura para viver. Mas infelizmente levamos só com o “filmezeco” do costume. O humor de Waitiki tem bons momentos mas é posto em pano de fundo quando passamos para Asgard. E o facto da Marvel preferir todo o tipo de violência a um pouco de sexualidade torna estas personagens (especialmente a de Vakyrie) estranhamente descompensadas. O filme nunca é realmente descontraído (como nas fitas dos anos 80 que o seu marketing referenciava) mas sim operático. O mundo onde vivem as personagens dos filmes da Marvel/Disney é, infelizmente, tão plástico como as embalagens onde os seus bonecos vêm.

O melhor: Tessa Thompson como a desequilibrada Valkyrie e a dinâmica Thor/Hulk.
O pior: Na reta final, a rotina é total.


José Pedro Lopes