Terça-feira, 19 Março

«Stronger» (Força de Viver) por André Gonçalves

 

A 15 de abril de 2013, duas bombas caseiras detonaram na maratona de Boston, deixando três mortos e centenas de feridos. Entre esses feridos, Jeff Bauman perdeu ambas as pernas por estar imediatamente adjacente a uma das bombas, e teve então que lidar com esta perda, ao mesmo tempo que a cidade lhe conferiu um estatuto de “herói”… 

Dramas biográficos contendo histórias de superação protagonizadas por pessoas deficientes de nascença, ou que ficaram assim por circunstâncias da vida serão um outro género difícil de bater em cima, sob o risco de ser acusado insensível.

Stronger tinha logo à cabeça um trunfo sobre outras narrativas: o realizador David Gordon Green, que evidenciou, ao longo de grande parte da sua carreira (começando por George Washington), um talento por sair fora da caixa, e escapar assim a facilitismos. E durante o primeiro ato, Green parece cumprir essa expectativa, ao não nos dar de bandeja o cocktail emocional, adicionando um pouco de realidade aos procedimentos – sendo o culminar do cocktail sugestivo o momento em que tiram o penso à personagem principal, entretanto sem pernas (primeira informação interessante, que demonstra esta preocupação em fazer quase docudrama: o médico foi o mesmo que operou Jeff Bauman; segunda informação interessante: esta cena é de tal modo bem executada que terá por si só gerado o mal-estar de uma espectadora, obrigando à paragem da projeção aquando da ante-estreia do filme). 

É após o regresso a casa que os procedimentos se tornam mais rotina, e Green parece sentar-se mais confortavelmente na sua cadeira, conduzindo a película para a conclusão mais lógica (leia-se: reconfortante), deixando o trabalho duro para os seus atores – principalmente a dupla principal interpretada por Jake Gyllenhaal e Tatiana Maslany. Esta dupla vai cumprindo com as expectativas – ele com o seu eterno charme de “rapaz perdido” (desde Donnie Darko), ela tentando fugir à figura típica que o argumento lhe escreve de “mulher de suporte” (e à associação direta às clones de Orphan Black). São performances-isco para prémios (não tivesse o filme sido um flop e estaríamos a falar mais deles), cuidadosas, empáticas. Pena que estejam à volta de um filme que não se supere de todo, contentando-se a partir de certo ponto, com mínimos facilmente aceitáveis pelo público-alvo, não fugindo de todo dos checkpoints obrigatórios que parecia à partida estar pronto a evitar. 

 

 

André Gonçalves

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