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Jigsaw: há vida depois da morte?

Let’s the game (re)begin!” A saga de terror mais lucrativa regressa passados 7 anos, sob os moldes de reboot, acima do seu vendido teor de homenagem. Iniciado em 2004, Saw, do na altura desconhecido James Wan, consolidou-se como uma instantânea obra de culto, pelo arriscado passo do fascínio pelo serial-killer em tempos que a consciência moral debatia-se com a violência do género, colocando e recolocando tais temáticas a séries restringidas, longe do mediatismo industrial, e com um argumento em existência com o seu twist final.

Sim, parece uma tendência “Shyamaliana”, algo que veio a transfigurar-se caricaturalmente na marca do realizador de O Sexto Sentido e A Vila, que Wan apropria, devolvendo o fator surpresa a esse dispositivo narrativo. Poderia ser um fracasso, mas não foi. Ainda hoje, o público que experienciou em tempo real Saw como um OVNI / incontornável thriller do ano, relembra o twist como impulso de deslumbramento, e consequentemente a estrutura óssea dos capítulos seguintes. Capítulos, esses, que se foram desenvolvendo com uma periocidade anual e assídua (Halloween era a meta de estreia), dando no seu total um franchise composto por 7 filmes (8, se incluirmos este Jigsaw), impressionante exemplo de como os baixos custos consistiam sobretudo em surpresas de box-office.

O suposto último capítulo deu-se em 2010, uma manobra estratégica de “matar dignamente” o “menino” que tem erguido a produtora Lionsgate. O resultado, esse, foi dececionante e Jigsaw foi “definitivamente” enterrado. Rest in Peace.  

Porém, no cinema, nada morre, e é quase regido aos mandamentos de Lavoisier (“nada se perde, tudo se transforma”). Neste caso, o franchise converte-se num lutador exausto pronto para o segundo round, contornando os espinhos narrativos deixados pela ronda anterior. Agora sob a batuta dos irmãos Spierigs (Predestination, Daybreakers), este Jigsaw, que muito bem poderia intitular-se de Saw: Legacy, é um espécimen que deambula na sua sala de troféus, as armadilhas em modo “Jogos sem Fronteiras” motivadas por falsos moralismos e falsos profetas. O argumento não há que saber, é o gore arrancado de um causa-efeito, com personagens de papelão a jogarem numa perfeita sala mortuária.

E quanto ao twist final? Sim, o “surpreendente” final está lá, como manda a lei “Saweana”, automatizada e devidamente questionada. Porém, não recomendável a tal, porque no fundo nada faz sentido. Aliás, a existência deste filme não faz sentido algum. Todavia, sabendo que as verdades devem ser ditas (neste caso escritas) a todo o custo, a dupla de realizadores apresenta um trabalho mais proporcionado, mais sereno e sóbrio, do que as confusões reféns da montagens rápida à lá MTV que a saga sempre nos apresentara (sim, James Wan foi o responsável pela tendência, as sequelas apenas usaram hipérboles desse mesmo estado).