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Elis: a triste cantada dos “biopics”

Consideravam-na num “furacão”, uma mulher que transformou a música brasileira para todo o sempre. Apontada como uma das grandes vozes femininas do Brasil, Elis Regina, o ícone, foi agora “vitima” da típica cinebiografia que é cometida por esse Mundo fora (este fenómeno dos biopics não é exclusivo de Hollywood), a vida retalhada em prol de um profundo anonimato cinematográfico.

É triste verificarmos o desperdiçar de vidas formidáveis, condensadas, esquematizadas e convertidas aos enésimos ciclos viventes. Por outras palavras, maioritariamente no cinema, ficamos com a sensação que grandes figuras são transformadas em enfadonhas e inexpressivas vozes. Elis, de Hugo Prata, é um mero telefilme, vulgarizado pelos lugares comuns, pela logística da narrativa forçada pelos factos verídicos e pelo estilo anacrónico e de disposição académica.

A rapariga que euforicamente descobre cantar no mesmo palco que Diane Ross cantara minutos antes, não possui a força, a vontade, nem a criatividade de transgredir o “certinho” formalizado do subgénero, nem mesmo Andreia Horta (que rigidamente limita-se à mimetização, ao alinhamento de tiques e manias em full playback) possui a capacidade de a salvar, nem mesmo invocar a forte presença que Elis fora. Infelizmente, é isto, uma biopic falhada, sem o mínimo interesse, nem para fãs, nem para aqueles que desejam conhecer a sua obra.

Mas nem nós poderemos ficar a rir dos nossos “irmãos”, a nossa grande diva musical, Amália Rodrigues, também ela fora “liquefeita” a igual tratamento. O problema não está no Cinema, portanto, está na ideia errada de como devemos retratar a vida de alguém na grande tela, ou simplesmente, o oportunismo de concretizar matérias fáceis e preguiçosas, que dão pelo nome de biopics. Triste ensaio este Elis.