Sábado, 20 Abril

«Contratiempo» por Jorge Pereira

Depois de em 2012 ter dado nas vistas com El Cuerpo, um curioso thriller que se centrava no desaparecimento misterioso de uma mulher que estava encerrada numa câmara frigorífica numa morgue, o catalão Oriol Paulo regressa com Contratiempo, um whodunnit de contornos hitchcockianos – onde até não faltam janelas indiscretas – que recorre a elipses para contar a história de um assassinato num hotel.

Perceba-se que tudo é visto a partir do que Adrián (Mario Casas), o acusado de assassínio, e Virginia Goodman (Ana Wagener), uma advogada que o prepara para o testemunho em tribunal, os quais vão falando e especulando, de forma a encontrar a melhor defesa possível.

Jogo de mentiras, meias verdades, e tremendos enganos, Contratiempo acaba por se arruinar no último terço, mostrando essencialmente que as reviravoltas que quer mostrar condicionam tudo o resto, tendo o espectador forçosamente de suspender  os sentimentos de descrença para conseguir «engolir» toda esta história recheada de situações recambulescas.

Não ajuda também o desempenho dos atores, em especial o pouco expressivo e monocórdico Casas, o qual assume um papel que necessitava mais crueza e frieza para se revelar marcante e carismático. Já Wagener mostra mais destreza a espaços, isto numa personagem que se revela vital para todo o processo. Destacam-se mais assim os secundários, com Jose Coronado e Bárbara Lennie a habitarem habilmente os corpos dos pais de um rapaz assassinado.

De resto, Oriol sabe criar a atmosfera, filmar e montar a sua obra de maneira a prender-nos minimamente até ao final. Pena é o desenlace, capaz de surpreender tudo e todos, mas não de convencer.


Jorge Pereira

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