Sábado, 20 Abril

«Mãe Há Só Uma» por André Gonçalves

Um jovem de 17 anos descobre que a sua mãe afinal é apenas uma mulher que o roubou e à sua irmã a duas famílias. 

A ter que definir sobre o que é este novo filme da realizadora e argumentista Anna Muylaert (A Que Horas Ela Volta), vem apenas uma palavra: identidade. Depois da polícia prender a sua “mãe de criação”, Pierre é convidado a mudar de identidade: é separado da única família que conheceu, e muda-se para a casa da família biológica que não o conhece, que tem outro nome para ele. Para complicar o empreendimento, temos então o factor queer: é que Pierre/Felipe é transgénero, e recusa-se a abdicar desse aspecto, para ira destes progenitores no papel. 

Perante este enredo telenovelesco, “Mãe Há Só Uma” nunca deixa de ser cinema, é verdade. Após um primeiro ato intrigante, o filme vai então acumulando pequenos momentos de desconexão que desembocam numa cena minimamente memorável no provador de roupa, que assinala assim o grande ponto de rotura com uma narrativa, que até esse ponto estava a ser, para todos os efeitos, subtilmente eficaz – tirando alguns momentos formalmente mais óbvios (como o uso de slow motion a certo ponto). Há algo neste clímax não anunciado, culminando então num final abrupto, que se revela um pouco mais inacreditável que a própria história em si, e ultimamente deixando um travo de frustração global. Por outro lado, é bom ter acabado cedo, antes que houvesse mesmo um colapso maior. 

Quanto à decisão de colocar a mesma atriz a fazer das duas mães, parece mais um gesto irónico que realmente necessário, e é até algo que até passa à primeira vista despercebido, tal a diferença que Daniela Nefussi imprime a estes dois papéis. 

Um filme de umas quantas valências à frente e atrás das câmaras mas que acaba por resolver este “duplo roubo” de uma forma até bem explícita, mesmo carecendo de uma resolução à séria… 

André Gonçalves

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